Por um mundo com menos “tem que” e mais experiências próprias

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Me policio o tempo todo para que o blog não se torne um espaço que dita regras, que frustra quem não pode fazer o que foi dito aqui. Não quero nunca ser a pessoa que fala que todo mundo tem que ir a tal lugar pelo menos uma vez, que tal passeio é obrigatório, ou coisas do tipo. Como aqueles livros que dizem o que conhecer, comer, visitar, ouvir, ler, antes de morrer. Ai não, por favor. Chega! Isso é um desencadeador de ansiedade e de frustrações. Pode ser, também, um gerador de sonhos, mas a é linha tênue.

Como leitora, tenho calafrios quando vejo aqueles títulos com verbos em caixa alta dizendo que você TEM DE IR/FAZER. Pior que isso, só quando dizem que tem de ir/fazer antes dos 20 ou dos 30… A gente tentando se livrar das amarras sociais e vem gente delimitar até a idade certa para viver certas experiências. Eu, hein! Sou muito mais a senhorinha que foi à Disney pela primeira vez aos 80 anos, a que passou no vestibular depois dos 60, a que se apaixonou aos 70 ou tantos outros exemplos que vemos por aí e que mostram que cada um vive do seu jeito, no seu tempo e nas suas possibilidades.

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Como produtora de conteúdo, especialmente aqui no blog, eu sei que falo com um público diversificado, pessoas de diferentes estilos e pontos de vista, mas com uma coisa em comum: mesmo com alguns apertos ou dificuldades, conseguem juntar uma graninha para as viagens que tanto gostam. Acho necessário falar isso, ainda mais em um país cheio de desigualdades como o nosso. Por mais que viajar tenha se tornado mais viável e que não seja preciso ter rios de dinheiro (amém), sei que não é viável para a maioria, não é “só” se organizar financeiramente, até porque não é todo mundo que pode optar por comprar mais um sapato ou guardar para as férias.

Então, às vezes, ao escrever meus relatos, fico pensando se não estou promovendo o efeito contrário do que gostaria. Porque minha ideia não é dizer que você tem de ir a Paris ou a Petrópolis, nem muito menos parecer que sou aquela pessoa que “se acha” por ter ido. Claro que ao compartilhar um destino estou também influenciando a tomar decisões – saber o que tem para fazer em determinado lugar pode despertar sua vontade de ir, pode ser a peça que faltava na sua escolha ou pode fazer com que alguém passe a sonhar com isso. Inspirar, sim! Encorajar, sim! Ajudar, sim! O que não quero, de forma alguma, é parecer que estou dizendo “vá”.

Ah, mas todo mundo foi. Bom, se você ainda está nessa de fazer coisas só porque todo mundo fez, sugiro dar uma repensada na vida e depois voltar para continuar a leitura. Viajar (e viver) não é uma disputa. Fora que vira e mexe vai ficar mesmo uma vontade batendo quando não der para ir/fazer algo, seja por falta de dinheiro ou de tempo ou de coragem. Lidar com isso faz parte também.

O que tento mostrar é que experiências positivas podem e devem ser vividas em diferentes lugares, de diferentes formas. O “como” e o “porquê” são muito mais importantes que o onde. Ou, como diz aquela música do Zeca Baleiro (jurava que era do Seu Jorge), “quem não pode Nova York vai de Madureira”. E ainda que alguém faça o mesmo passeio que eu fiz, que siga o mesmo roteiro que publiquei, a sensação vai ser outra. Ainda bem!

Cada pessoa tem suas preferências, suas condições, suas prioridades, inclusive nem acho que todo mundo precisa viajar, se não quiser. Conhecer o mundo só é uma experiência realizadora para quem sonha com isso. E aí sim, entra o outro papel do blog, que é dar as informações para ajudar a realizar esse sonho. Escolheu o destino? Vem ver o que já escrevi sobre ele, vem me perguntar porque eu adoro responder.

Mas, se eu pudesse dar apenas um conselho (além do filtro solar), seria:
não se sinta presa/o a dicas ou regras.

Leia todas elas, sonhe, veja recomendações, tenha todas as informações, mas filtre aquilo que realmente te interessa, o que desperta seu desejo, o que faz seu olho brilhar. Crie sua própria história. Quem tem de responder qual o melhor lugar para VOCÊ, é você, não sou eu!

PS: E aí que eu já estava com esse texto todo pronto quando saiu uma coluna do muso jornalista-viajante Zeca Camargo na Folha de São Paulo que me fez abrir esse parágrafo. Ele fala sobre os “turistas esnobes”, especialmente os que produzem conteúdo de viagem e podem acabar por aborrecer os leitores com seus relatos. Um trecho que amei e acho que tem tudo a ver com o que quero dizer aqui (só que dito de forma bem melhor por ele): “Para mim, existem dois tipos de reportagem de turismo. A que diz ‘eu estou aqui e você não’ e a que convida ‘vem comigo’.”  É desse segundo grupo que quero que meu blog faça parte. Vamos? 😉

Para ler ouvindo:

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