Não assisti a nenhum dos filmes indicados ao Oscar, e daí?

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Na cerimônia de entrega do Oscar de 2016 eu, do sofá da minha sala, acompanhei tudo atentamente, comentando no Twitter e no Facebook sobre os indicados, minhas apostas, minhas preferências. Assisti até o fim. Muito, confesso, pela expectativa de ver Leonardo di Caprio receber a estatueta como melhor ator, aquela que ele devia ter recebido lá no século passado quando se afundou com o Titanic sendo que havia espaço da tábua da Rose, mas enfim…

A transmissão tinha como comentarista convidada a atriz Glória Pires. E, ao contrário de mim, ela não sabia opinar. Não tinha assistido determinado filme, não tinha opinião formada sobre outro, preferia não arriscar um palpite. Virou meme, claro, foi diversão garantida e, também, alvo de críticas. Eu mesma, em meio a muitas risadas, questionava: como assim ela não se preparou?

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Agora, às vésperas do Oscar 2018, me vejo como a própria Glória – com a diferença, é claro, de que não fui convidada para estar em rede nacional, de modo que, para mim, tudo bem não saber opinar. Mas fato é que aquela ânsia de querer ver tudo, conhecer tudo, ter informação para formar uma opinião sobre tudo, quase como se ir ao cinema fosse uma tarefa e não um lazer, passou.

Embora eu seja apaixonada por cinema, nunca fui a que vê mesmo tooodos os filmes. Tem uns que não fazem meu estilo e não há crítica ou favoritismo que me faça ver. Mas, da lista dos que me parecem interessantes, me lembro de em alguns anos ficar louca para querer assistir logo, para chegar no dia da premiação sabendo. Eu continuo achando isso legal. Só que esse ano não rolou. E, também, há um tempo eu me permiti essa desaceleração – isso aqui é só um exemplo, porque sou assim em tudo (ou era assim).

Não sei, tem a ver talvez com uma vontade infantil de querer ter acesso a coisas que eu não tinha, uma vontade adolescente de estar por dentro de coisas que eu não estava, e me transformei na adulta que, graças a Deus, tem acesso a praticamente tudo e pode estar sempre por dentro. Mas isso virou uma afobação.

Confesso que eu sempre morri de medo de estar numa roda de amigos e a galera tocar num assunto sobre o qual eu não soubesse opinar ou, pelo menos, não soubesse do que se tratava. De me acharem “menor” ou, na verdade, de eu me sentir “menor” – porque não é sobre o outro, né?, é sempre sobre nós mesmos.

Isso passou. Paralelamente, venho buscando um caminho de consumir menos informações. Não muito, porque vivo disso e gosto, mas aí junta esse lado que falei e acaba virando um peso. Brinco que minha meta é a alienação. Mas, na verdade, a meta é a conquista da aceitação de saber que não preciso querer saber de tudo – essa parte acho que já consegui, ou, pelo menos, já melhorei bastante!

Hoje não estou nem sabendo direito os nomes dos indicados ao Oscar. Li sobre alguns e assistirei à cerimônia porque acho legal. Pode ser que eu fique acompanhando no Twitter e tudo. Ou talvez eu durma. Depois assistirei também aos filmes que me agradarem. Com calma. Na TV. Num dia qualquer de cinema vazio. E se na mesa de bar ou na roda de amigos ou mesmo nos ambientes virtuais eu estiver totalmente por fora… Faço a Glória.

* A imagem que ilustra esse post é um meme de domínio público.

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