#MaisFelizNoRio – um projeto para reaprender a amar a Cidade Maravilhosa

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Rio de Janeiro, 2017. Qualquer pessoa que já tenha acessado algum site, lido algum jornal ou ligado a TV sabe que as coisas não estão nada bem. Estado falido. Servidores há meses sem salários. Muitos sem comida. Violência crescente. Assaltos. Arrastões. Crianças mortas com balas perdidas dentro de escolas. Bebê morto com bala perdida ainda na barriga da mãe. Dezenas de policiais assassinados. Cultura em crise. Aumento no número de moradores de rua. Novos casos de corrupção descobertos a cada dia. Descaso das autoridades. Sensação total de desamparo. E a cidade que, como cantam há anos os Paralamas, tem braços abertos num cartão-postal segue com os punhos fechados na vida real… negando oportunidades, mostrando a face dura do mal.

Fica difícil ter esperança! Dizem que ela é a última que morre e, desconfio, talvez isso esteja prestes a acontecer. Tudo vai virando uma bola de neve. Alguém fala sobre uma situação, outro comenta de uma história ainda pior e, assim, as redes sociais se tornam um verdadeiro muro das lamentações. Fora do mundo virtual não é diferente. Todo mundo chega aos lugares aliviado depois de um caminho com medo e esse acaba sendo o primeiro assunto, que leva a outro, e todo mundo sabe de algo ruim para contar – se não viveu, conhece alguém que viveu. Vai dando uma tristeza, que vai gerando uma raiva e a gente meio que entra nessa vibe negativa – ou é a vibe negativa que entra na gente?

“É assim mesmo”, repetimos meio que tentando convencer a nós mesmos de que tudo isso é normal. Ou, como maravilhosamente escreveu Marina Colassanti, “A gente se acostuma. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.”

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Moro no Rio há alguns anos. A cidade que eu via nas novelas, que eu ouvia nas músicas, os cenários que faziam parte da minha imaginação… e de repente tudo era real. Fica difícil explicar a sensação! Para mim, morar no Rio foi tipo conquistar o mundo. Depois, com a rotina, as novidades foram acabando e todo aquele deslumbramento inicial foi passando. Mas, ainda assim, eu conseguia ver algo mágico e especial. Só que, de uns tempos pra cá, tudo desandou, a realidade foi ficando mais dura e já não havia em mim magia suficiente para saber lidar. Viver no Rio se transformou quase em um fardo. Pesado. Difícil. Eu não estava mais feliz.

Mas me mudar também não era uma opção. Porque não acho que seja assim que as coisas se resolvam, porque eu amo o Rio e porque me sinto mal em desistir da cidade que um dia eu tanto sonhei que fosse minha. Fora que, infelizmente, quase todos os lugares, das grandes metrópoles aos pequenos municípios do interior, sofrem com a violência em alguma proporção.

Repensei minha trajetória, questionei minhas escolhas… E então eu percebi que era preciso reaprender a amar a tal Cidade Maravilhosa. Reaprender a ver suas belezas. A valorizar tudo de bom que ela me trouxe e tudo de bom que ela tem. Agradecer por todas as coisas lindas que vivi aqui e a partir daqui. Assim nasceu o projeto #MaisFelizNoRio.

Nas redes sociais – Instagram e Facebook – e no próprio blog quero mostrar tudo o que me inspira – lugares, pessoas, iniciativas, eventos, movimentos, possibilidades, sensações, tem tanta coisa linda por aqui! Perceber a grandiosidade que há na simplicidade, em uma caminhada ao ar livre, em uma música que toca, em uma flor que nasce, em uma água de coco gelada na praia, em uma criança que sorri. E motivar para que outros também mostrem suas inspirações.

Veja publicações inspiradoras sobre o Rio de Janeiro.

É claro que não vou fechar os olhos para a situação degradante, que às vezes se assemelha mesmo a uma guerra, tampouco vou fingir que nada está acontecendo. Não sou dessas. Minha indignação continua e é crescente, mas percebi que, se eu me deixar contaminar pelo ruim, se a gente deixar que essa negatividade nos envolva, ou (pior!) se a gente achar que “é assim mesmo”, vai ser difícil lutar para que as coisas mudem. E elas hão de mudar!

Faltam pouco mais de 100 dias para o fim do ano e, até lá, espero que possamos estar melhores para entrarmos em 2018 com outro foco. Porque se a gente começar a focar no lado positivo – ou, pelo menos, em lembrar sempre que, apesar de todos os pesares, há muita coisa positiva – vai ser mais leve estar aqui e isso vai dar mais força para que, juntos, a gente possa sentir orgulho e alegria em viver nessa cidade. Como diz uma música que eu amo da Fernanda Abreu, eu “Rio da leveza desse povo, carregado de calor e de luta, povo bamba, que cai no samba, dança o funk e tem suingue até no jeito de olhar”… Vem comigo ser #MaisFelizNoRio!

Para ler ouvindo:

*Foto principal: Lu Mattos Fotografia

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