Visita à Aldeia Txag’ru Mirawê, da tribo Pataxó, na Bahia

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Quando o português chegou / Debaixo duma bruta chuva / Vestiu o índio
Que pena! / Fosse uma manhã de sol / O índio tinha despido o português.

Eu sempre adorei esse poeminha, “Erro de Português”, de Oswald de Andrade, mesmo antes de entender ao certo o que ele significava – uma crítica à imposição cultural e religiosa sobre o povo indígena.

Mais de 500 anos depois desse acontecimento (a chegada dos colonizadores, não o poema), essa discussão ainda rende. Mas fato é que, cada vez mais, a cultura indígena precisa continuar sendo preservada.

Esse é o objetivo do trabalho realizado na Aldeia Txag’ru Mirawê, da tribo Pataxó, que tive a oportunidade de visitar em setembro de 2017, durante uma viagem que fiz a algumas cidades do extremo sul da Bahia.

A região é conhecida como Costa do Descobrimento por ser o local onde Pedro Álvares Cabral aportou com suas caravelas em 1500. Como todo mundo sabe, até então o Brasil (que nem se chamava Brasil) era habitado por indígenas. E o resto a história já tratou de registrar, ainda que com uma narrativa muito eurocentrada.

Por isso é importante o trabalho que realizam na Aldeia Txag’ru Mirawê. É um resgate de tradições, uma forma de mostrar e divulgar a cultura indígena para os turistas que estão visitando a região. Como diz uma frase do líder e ambientalista Ailton Krenak:

“No dia em não houver lugar para o índio no mundo, não haverá lugar para ninguém”.

Mas voltando ao passeio à Aldeia Txag’ru Mirawê…

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Os pataxós não vivem na aldeia. Eles têm suas casas (que ficam próximas), estudam em escolas regulares, compram roupas, acessam a internet, enfim, usufruem das possibilidades que o mundo oferece. Tenho pavor de quem critica ou debocha disso. Seria absurdo exigir que um ser humano, independente de etnia, vivesse como se ainda estivesse no século XVI. Ou julgar que alguém é “menos índio” por causa disso. Mas enfim…

A Aldeia é o trabalho deles. É onde muitos – adultos, jovens, crianças – passam o dia e desenvolvem um projeto importantíssimo de valorização dessa cultura, que nada mais que é que a nossa cultura, a nossa história!

Logo na chegada, eles fazem uma palestra curta, falando um pouco sobre a tribo, curiosidades, etc. Todos usam trajes típicos. Oferecem, ainda, pintura facial, cujos traços simbolizam algumas características da pessoa, como estado civil, força, etc. Tudo feito com ingredientes naturais: urucum, carvão, entre outros.

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Há uma breve caminhada pelo espaço, que é de terra mesmo, cheio de verde, onde estão montadas algumas armadilhas que eram usadas pelos índios no passado para capturar animais. Falam, também, de plantas medicinais.

Enquanto isso, foi possível conversar com alguns integrantes da tribo, saber mais sobre a vida deles… Gostei, especialmente, das crianças, que são muito fofas!!!

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Depois, todos fizeram uma apresentação de danças típicas, com músicas cantadas por eles. E a gente pode dançar junto, com os passinhos que vão ensinando. Por fim, é servido um peixe assado na folha de bananeira no fogão a lenha.

A visita para turistas dura cerca de 1 hora e é realizada por várias agências de Porto Seguro e região (eu fiz com a Coconut Experience).

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Além de uma cesta onde cada um pode colocar sua contribuição voluntária, o espaço tem exposição de artesanato, que é vendido, para garantir parte da renda de todas as famílias dali. Fiquei tentadíssima a comprar um cocar, era uma coisa linda e mega bem-feita, mas pensei melhor e resisti!

Mesmo sabendo que se trata de um “programa para turistas”, eu gostei muito de ter vivido essa experiência! Acho lindo que eles se dediquem a essa preservação da memória de seus antepassados, já tão maltratados e desrespeitados ao longo de todos esses anos, desde a chegada dos portugueses e até hoje!

A Aldeia Txag’ru Mirawê fica localizada a cerca de 20km de Porto Seguro, na beira da estrada próxima à Praia da Coroa Vermelha. Neste Dia do Índio, comemorado em 19 de abril, fica a minha homenagem ao nosso povo.

Para ler ouvindo:

Fotos: LuMattos

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