Para o Rio, com carinho – minha carta de despedida

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Quando você ler esta carta eu já estarei longe. Preferi assim. Acho que dói menos. Apesar de saber que, talvez, ainda possa doer por um tempo. Porque foi tudo muito forte!

Sabe, eu senti algo diferente desde a primeira vez que a gente se viu. Ou melhor, que eu te vi… Porque nem sei se você me notou. Você, tão importante, tão conhecido, tão querido por todo mundo. Eu, ainda aquele bichinho do mato. Foi um olhar rápido, meio que de passagem, mas foi tão arrebatador que lá no fundo comecei a pensar que um dia estaríamos juntos.

Anos depois nos conhecemos melhor. Três dias intensos e era como se eu já te conhecesse. Sei que já contei mil vezes, mas gosto de contar sempre: você era minha paixão desde criança, eu sonhava com isso quando eu ainda nem sabia direito com o que era possível sonhar. Então cada canto, cada ponto, tudo me soava íntimo, familiar. Tudo fazia eu me sentir bem. Como se já tivesse até acontecido em outra vida – mas, possivelmente, foi por eu já ter pesquisado muito e lido muito a seu respeito. Fora as músicas, as novelas, os filmes. Sim, eu já sabia quase tudo de você. E você ainda não sabia nada de mim.

A partir daí tivemos alguns outros encontros e fomos ficando mais próximos. Seu mar, praia sem fim… É, Rio, todo mundo vinha dizendo que fomos feitos um para o outro. Eu nem sei mais se ainda sonhava com isso, porque à medida que te conhecia eu ia vendo, também, que não seria muito possível. Caindo na real, né? Tínhamos e temos diferenças abissais. E minha vida àquela altura estava estabelecida, tudo caminhando. Mas tinha de ser. E foi.

Contra tudo e contra todos. Porque não foi fácil. No começo, mesmo certa do que eu queria, eu chorava toda noite. E, não sei se você percebeu, mas ao longo desse tempo eu chorei muitas outras vezes. De angústia, de dúvidas, de alegria também ao olhar para minha vida e não acreditar que era real! E de culpa, essa que talvez me acompanhe em todas as decisões que eu tomar, por sempre deixar tanto para trás, embora confiante no que vem pela frente.

Mas eu fui feliz com você. Formamos uma bela dupla, ô se formamos. Aprendi a lidar com o seu calor, com sua umidade, com o jeito descompromissado do seu povo e com suas chuvas loucas. Aprendi muito sobre cultura, sobre história, sobre samba e até sobre desigualdades sociais. Aprendi a gostar do horário de verão. Aprendi que chinelo pode e deve ser usado em qualquer situação, combinando com o estilo despojado. Eu era mesmo a sua cara. Me tornei “mineiroca”.

E lá se vão 10 anos! Se fosse para resumir tudo em uma palavra, eu diria OBRIGADA. Obrigada por me acolher, por ser sempre tão generoso comigo, por todas as oportunidades que me deu, por todas as belezas e pessoas que colocou no meu caminho, por ter me mostrado que é possível, por ter me tornado uma mulher mais forte, mais corajosa e mais livre. Foi muito bom viver (n)esse outro sonho feliz de cidade – que aprendi, como diz a música da sua “rival”, a chamar depressa de realidade.

E me permita usar aqui um clichê, mas não é nada com você. Sou eu. Não foi nenhum dos seus problemas tão divulgados aos quatro cantos, mas contra os quais eu mesma sempre te defendi e continuarei defendendo. Porque isso tudo era nada perto de tudo de bom que vivi com você e a partir de você. O que aconteceu foi um desgaste natural, como toda relação. Paixões avassaladoras não costumam durar para sempre, afinal.

Aliás, essa mania das pessoas em quererem saber o que é ou não para sempre. E eu lá sei? Eu vivo e vou sendo feliz. Meu para sempre é hoje e nisso acho que nos demos bem. No mais, ficam aquelas lembranças gostosas de se ter e uma saudadinha que talvez não passe nunca, mas que sempre será uma saudadinha boa de sentir.

PS: Eu te amo!

Para ler ouvindo:

Foto: @lumattosfotos

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