*Imagem: Freepik
“Já está pensando no próximo?” A pergunta, feita a mim durante um dos lançamentos do meu livro, me pegou de surpresa. Como assim, próximo? Eu tinha acabado de publicar um livro novo! Seria mesmo o momento de já pensar em um próximo? Ri, ignorei, passou. Mas, agora, voltei a pensar nesse tipo de pergunta, que muitas vezes pode ser uma pressão.
Livro, projeto, emprego, aumento, carro e outros bens materiais… a conquista de hoje, por maior que seja, parece já não valer nada, porque o pensamento precisa estar sempre na próxima. Diante de uma grandiosidade utópica, tudo parece ter se tornado insuficiente.
Ainda na temática Fernanda Torres (como deixar de falar dela?), vi algumas entrevistas em que ao citarem o Globo de Ouro, logo invocavam o futuro e hipotético Oscar. Como quem diz “parabéns, ganhou, mas e a expectativa com um prêmio ainda maior?”
Fernanda, em uma de suas respostas bem-humoradas, disse “estou satisfeita com o que Deus me deu e vocês não me chateiem”. Fez, ainda, uma analogia com a subida de montanha, que você escala, se esforça, chega lá exausta e a primeira coisa que dizem quando você desce é que agora tem que escalar o Everest. Pra não perder o meme, digo: totalmente sensata!
Quem dera fosse só com ela. Nós, pobres mortais, passamos por isso o tempo todo. Com cobranças que vêm de fora e que, quase inevitavelmente, se tornam nossas também. O sistema, sempre ele. O estar satisfeito virou algo ruim, um sinônimo de estar acomodado – e não é (mas nenhum problema também se fosse pq cada um sabe de si).
A gente desaprendeu a se contentar e, com isso, a gente perde, muitas vezes, a chance de estar feliz com algo concreto pra estar ansioso por algo futuro. Como se a conquista só tivesse valor no processo e não na conquista em si. O que acaba meio que caindo naquele papo coach de que não teria graça de fosse fácil. Será mesmo? Eu aposto que teria (alô universo, me mande aqui uma grande conquista de forma fácil pra eu testar uma coisa).
Não estou dizendo que não é pra sonhar mais alto ou não torcer pra que o Oscar da Fernanda venha aí. Mas sim pra que o foco não esteja só no distante. Pra que a celebração não seja tão efêmera. Pra que a gente sorria e respire, porque tudo isso é exaustivo antes mesmo de começar.