“Morei por três meses em Culiacán, no México. Foi minha primeira viagem internacional. Eu sempre quis realizar um intercâmbio, integrar a uma nova cultura e adotá-la como minha. Sempre me considerei um Cidadão Global. Então soube da oportunidade e me joguei de cabeça. Minha família apoiou, com um pé atrás, mas não costumo deixar que isso seja empecilho nas minhas decisões. Sempre faço o que penso ser correto.
Fui realizar um trabalho social, voluntário, com crianças órfãs. Minha pretensão era ir para o Peru, mas a opção de projeto lá não se adequava aos meus objetivos como essa do México, então não pensei duas vezes ao escolher: se o motivo da minha viagem era o trabalho social, não o turismo, e o projeto do México somava todas as qualidades que eu buscava para aquele trabalho, era pra lá que eu tinha de ir. Eu desenrolava aquele portunhol que todo brasileiro se julga ‘fluente’, mas não é exatamente assim. É possível se comunicar mais facilmente num país de língua espanhola pela semelhança dos idiomas, sim, mas o espanhol é bem mais complexo. Aprimorei bastante o conhecimento gramático e de vocabulário e a convivência me fez ter uma fluência verdadeira do idioma da qual me orgulho bastante. Em dado momento eu já nem lembrava mais do português, as palavras começavam a ser substituídas pelo espanhol. Fiquei com receio de perder a fluência do meu idioma nativo ao retornar. kkkkk Mas correu tudo bem.
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Tive muito medo, por ser a primeira viagem pra fora do país. Não era bem insegurança, mas temor, principalmente por não saber como lidar em caso de imprevistos. Me preocupava mais com a adaptação, com as questões legais. Qualquer outra questão eu sabia que conseguiria tirar de letra. Mas deu tudo certo. Consegui voltar uma pessoa diferente, mais madura, organizada, responsável, safo. Posso lhe garantir que, se você se perde em outro país e tem de se virar, em outro idioma, para ficar bem, você consegue qualquer coisa na vida.
Lá morei com uma família mexicana, bem no estilo host family, e foi o melhor de todo o intercâmbio. Pude fazer parte daquela cultura, de uma rotina diferente da minha, e aprender coisas novas com eles. Fui muito bem recebido, tanto que eles são meus pais agora também e aquela é minha família. Inclusive, minha irmã mexicana chegou agora ao Brasil para turistar comigo. A organização que intermediou meu intercâmbio, a AIESEC (organização sem fins lucrativos que tem como propósito promover a paz mundial e a liderança jovem por meio do intercâmbio), me preparou para o momento do choque cultural, que eles dizem ser esse constaste de vivências. Mas mesmo indo um pouco alinhado, sentir é diferente. A velha disputa entre teoria e prática. Mas não foi difícil a adaptação, tudo correu perfeitamente para que eu pudesse me sentir em casa e sentir parte daquela cultura. Decidi me entregar também: tentava não dizer não novo. O segredo é se permitir experimentar. Se você vai gostar ou não já é uma consequência, mas se você mostra esse respeito de querer experimentar, querer fazer parte, eles te respeitam ainda mais.
E eu chegava a ser mimado por ser estrangeiro. Eles se mostravam super solícitos a ajudar, sempre buscando oferecer o melhor serviço ou informação. E a curiosidade de saber mais sobre o Brasil sempre existia. Como sou patriota, adorava falar pra eles sobre meu país. Mas voltar foi um momento complicado pra mim: queria ficar, mas também queria vir. Voltei porque precisava. Morrendo de saudades dos lugares, das pessoas, dos momentos. Mas tudo fica guardado no coração e na memória. Duas semanas depois foi que bateu a nostalgia e eu queria pegar o primeiro avião e voltar pra lá.
Me tornei uma pessoa muito mais consciente dos meus limites e capacidades. Tive que lidar sozinho com diversas questões, desde financeiras a emocionais. Banquei todo meu intercâmbio sozinho, então tive que saber otimizar gastos. Voltei mais maduro, paciente, sábio, apaixonado pelo mundo. Já gosto de viajar, tento manter uma rotina de conhecer quatro locais diferentes ao ano, mas era uma promessa para dentro do Brasil (o que ainda está valendo, pretendo conhecer meu país de cabo a rabo), mas não vejo a hora de pousar em outro país e ver tudo se repetir, assim como experienciar coisas novas. E quanto ao trabalho, vejo que o intercâmbio despertou em mim uma liderança de poder estimular as pessoas que estão ao meu redor, para que possam querer atrair resultados qualitativos e positivos sempre. Eu penso que todos deveriam se permitir um intercâmbio. Sair da zona de conforto, experimentar algo novo. Qualquer que seja o saldo, no fim das contas vai ser positivo. Você sempre sai se conhecendo melhor (e conhecendo melhor o mundo).”
Por João Vitcor Acioly, ator, alagoano
Fotos: Arquivo Pessoal
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