“Eu nasci e cresci numa cidade bem pequena, no interior de Pernambuco. A minha família sempre teve as raízes bem presas naquele chão agreste (lindo!), e por muitos anos, minhas viagens aconteceram apenas no mundo dos livros. Eu embarcava para os lugares mais distantes do mundo com meus personagens, enquanto sonhava em poder ver e experimentar esse mundo imenso ao vivo, um dia.
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Foi com a faculdade que vieram as primeiras viagens, e eu comecei a desbravar o mundo. Nem sempre a experiência foi fácil, muitas vezes foi um desafio. Mas cada uma das minhas viagens me ensinou um pouco sobre o mundo, e me ajudou a entender melhor quem eu sou. Cada nova jornada foi um aprendizado, e eu me lembro em especial de três viagens que eu fiz sozinha e que mudaram minha vida para sempre:
1) São Paulo, 2008 – Confie em si mesmo.
Foi a primeira vez que eu parti para descobrir o mundo. São Paulo me ensinou a confiar na minha capacidade de vencer o medo e viver grandes aventuras. Embarquei para fazer um curso em Ribeirão Preto, ainda na época da faculdade. Foi a primeira vez em que entrei sozinha num avião, e que usei meu dinheiro para comprar passagem, mala, hospedagem, tudo. O dinheiro só deu para a passagem de avião até São Paulo, então o caminho até Ribeirão Preto eu tive que fazer de ônibus.
Não vou mentir: eu estava morrendo de medo! Eu nunca tinha saído de Pernambuco sozinha, e agora ia desembarcar na maior cidade do País, pegar um ônibus que me levasse até o Tietê, e de lá seguir para o interior. Pra quem só imaginava quão grande São Paulo era, eu sonhei com mil formas desse caminho dar errado!
A minha maior lembrança foi que estávamos todos juntos chegando no Terminal do Tietê – eu com meus 18 anos, minha mala nova (com a roda da direita quebrada no desembarque do avião) e a ansiedade enorme pelo desconhecido.
Perguntei aqui, perguntei ali, e fui me virando para chegar onde eu queria. Com pouco dinheiro, com viagem de 4 horas de ônibus, com mala quebrada, eu fui de todo jeito. E foi incrível! Fiz amigos, aprendi, ri, vi o mundo. Essa viagem foi uma grande afirmação pessoal. Eu posso sim, conseguir tudo que eu quiser. Nem sempre vai ser do jeito mais fácil, mas o orgulho que dá quando a gente realiza um sonho, nada no mundo é maior!
2) Pittsburgh, 2011 – Você é sua melhor companhia.
Eu era aluna de mestrado em Recife, e um dia meu orientador me ligou: Oi, você quer terminar seus experimentos nos Estados Unidos? Eu não demorei nem 10 segundos para responder: Claro que sim!! Quando eu embarco?
Na hora, eu nem pensei que meu inglês não era tão bom, que eu ia deixar pra trás namorado, família, amigos, e todo e qualquer porto seguro que eu tinha no Brasil. Eu estava indo ver o mundo sozinha, por seis meses.
Esse intercâmbio foi a coisa mais linda e mais difícil que eu já fiz na vida. Eu conheci lugares lindos, brinquei na neve pela primeira vez, aprendi sobre culturas e experimentei comidas de todas as partes do mundo. Provei cervejas incríveis e aproveitei muito da segurança da cidade. Dava pra voltar tarde pra casa, sozinha, sem nenhum medo de nada acontecer. Troquei experiências, ensinei muito sobre o Brasil e aprendi sobre outras partes do mundo.
Essa foi a parte boa. A parte difícil foi chorar sozinha na praça por, muitas vezes, não entender ou ser entendida completamente. Passar o Natal sozinha e o Ano Novo num barzinho cheio de desconhecidos. Ficar longe dos jogos de futebol do meu time, e dos almoços em família. Ter que lidar com um rótulo de ‘mulher brasileira é fácil’, vez ou outra. E, acima de tudo, sentir falta dos meus amigos.
Muitas vezes, não entendi o comportamento dos amigos americanos, tão mais frios que nós latinos. Até o básico das relações pessoais pode ser bem diferente de um país para outro, e a gente só percebe isso quando vê de perto. Aceitar que as diferenças culturais são normais foi um grande passo pra mim, e me fez crescer muito.
Pittsburgh me ensinou que eu precisava aprender a me curtir, e não depender diretamente de ninguém para minha felicidade. Que eu posso sim ir a shows, ao cinema, ao barzinho sozinha. Aproveitar muito de tudo que a vida me proporciona, sem esperar companhia pra isso.
3) Rio de Janeiro, 2013 – Aceite as surpresas da vida.
Com essa independência toda, veio também um bom tempo sozinha. Eu me acostumei a colocar a mochila nas costas e partir, sem me preocupar muito com o que deixava para trás.
As viagens sozinha iam se sucedendo até que eu comprei uma passagem para uma temporada no Rio. Eu queria conhecer a Cidade Maravilhosa e acabei encontrando Rafael – com quem hoje eu divido quase todas as viagens da vida.
Foi tudo rápido e surpreendente, como todas as reviravoltas na minha vida. Eu não queria um relacionamento, muito menos um namoro à distância. Mas quem manda no coração? O Rio de Janeiro me ensinou a aceitar as surpresas da vida.
Comecei a viajar muito mais sozinha, mas agora pra encontrar Rafa no outro lado da ponte aérea Rio-Recife. Foram idas e vindas mensais nos tempos que a passagem aérea ainda não custava tanto, até que um dia a gente juntou as malas de vez. As viagens me deram mais um presente: um amor.
Viajar sozinha basicamente mudou minha vida do começo ao fim. Mudei, cresci, aprendi, amei, me abri para o mundo e para novos relacionamentos. Hoje eu sou as experiências que vivi, os aprendizados que tive e as coisas que vi pelo mundo. Eu não sou a mesma pessoa desde que comecei a me aventurar, e tenho certeza que muitas mudanças ainda estão por aí, esperando os próximos embarques.”
Texto: Klécia Cassemiro, do blog Fui Ser Viajante
Fotos: Arquivo Pessoal
Já viajou sozinha e quer ver seu relato publicado aqui?
Me escreve no mariana@marianaviaja.com
Mari, muito obrigada pelo espaço para contar um pouco das minhas histórias pelo mundo. Viajar mudou a minha vida – muda até hoje!
Viajar sozinha nunca foi sinônimo de solidão – sempre significou muito descobrimento pra mim! Espero que, cada vez mais, nós mulheres possamos partir para novas aventuras mundo afora! <3
Beijos e boas viagens!