“Sempre via nos livros de história grandes exploradores, navegadores e aventureiros que descobrem novas terras, ou vivem diversas experiências conhecendo o mundo, em sua maioria homens, tais como nos filmes de aventura que eu tanto admirava. Espelhada neles, desde pequena, como várias crianças fanáticas por filme e com a mente sonhadora, idealizava em viajar e viver essas aventuras quando crescesse. Porém, nessa época era praticamente nula a representação de mulheres, o que me desanimava bastante. Mas eu sempre me senti meio desconectada do real e a verdadeira sensação de honestidade com a minha subjetividade vinha quando eu estava sozinha, então não foi difícil quando aos 19/20 anos eu decidi que iria viajar desacompanhada.
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A euforia para mim já começa com o planejamento. Comecei a procurar algo mais perto pra minha primeira viagem e decidi que queria andar de trem. Saí de Belo Horizonte e fui para o Espírito Santo, me hospedei no centro de Vila Velha, que ficava de fácil acesso pros pontos turísticos, visitei o convento da Penha, conheci a fabrica da Garoto, o Parque da Pedra da Cebola, vi museus, decidi que precisava almoçar em um restaurante chique e fiz aula de surf na Praia D`Ulé.
Eu jantava todo dia em um bar na orla da praia perto do hotel e ficava hipnotizada olhando o mar. No penúltimo dia comecei a caminhar até o anoitecer pelas orlas sem me dar conta e conheci as várias praias do caminho.
Como sempre amei esportes radicais, quase no final da viagem, me sentindo mais inspirada, decidi que quando voltasse para Belo Horizonte ainda não teria acabado… e fui ao topo do mundo voar de Parapente.
Depois dessa experiência confirmei que amava estar na estrada e decidi fazer pelo menos uma viagem por ano, continuando inicialmente por áreas no resto do Sudeste do país. A seguinte foi quando eu decidi finalmente realizar meu sonho de ver um show da minha banda favorita, Bon Jovi, no Rock in Rio. Fui em dois dias do festival e foi uma experiência que não trocaria por nada.
Foram 13 horas praticamente em pé pra ficar perto do palco, um momento que só quem está presente, os milhares de fãs reunidos, compartilham a emoção, o que me fez pensar que se tivesse ido com alguém provavelmente a sensação não seria a mesma, principalmente por nenhum dos meus amigos terem o mesmo gosto musical e a motivação pra ficar esse tempo todo aguardando com tamanho cansaço físico, pois era a última apresentação da noite. Conheci algumas mulheres que também estavam sozinhas, entre elas uma que ia em todos os festivais musicais independente do estado, sozinha desde que completou 18 anos. Entre os dois dias do evento ainda tive a oportunidade de ir à praia.
Esse ano encerrei a meta de passar por áreas do Sudeste em São Paulo. Conheci o bairro Liberdade, dessa vez acompanhada, seguindo para o município de Boituva e pela primeira vez hospedada em um hostel. Fui voar de balão! A minha companhia foi embora antes e voltei para a capital, continuando a viagem sozinha. Fui visitar o aquário e zoológico de São Paulo.
Conheci ao longo das viagens muitas pessoas boas, seja na estrada, na hospedagem ou em algum estabelecimento. Percebi que existem muitas pessoas solidárias por aí, e que por mais que você esteja desacompanhada, nunca vai estar sozinha, a ajuda vem de quem menos se espera.
Alguns exemplos que esbarrei: quando conheci no trem a minha colega de assento que quis me comprar almoço; um vendedor que me deu um ornamento da sua loja; e o dia em que me perdi no Rio e o motorista de um ônibus fez questão de me deixar perto da pousada em que estava.
Por incrível que pareça, além das reações comuns de surpresa da maioria quanto a viajar sozinha, o resto foram comentários positivos. Um que se destacou para mim foi quando eu estava no Rio conversando com um homem no ponto de ônibus e mencionei que gostava de viajar sozinha (ele não sabia que eu estava sozinha naquela viagem, claro), e ele respondeu não com um tom de desprezo, mas sim de surpresa: “Nossa, eu fico impressionado com as mulheres da sua geração que estão livres no mundo e têm coragem de sair por aí, não é igual antigamente”.
Por fim, encerro esse relato dizendo, com orgulho, que sim, estamos por aí cada vez mais autônomas e corajosas, vamos descobrir cada vez mais do mundo, e nunca é tarde pra começar. Não aguardo os outros para fazer o que quero, porque às vezes na espera nunca vai acontecer, seja por desistência ou por outro motivo. Viajar nunca foi tão fácil pelas informações e tecnologias que temos! Valeu a pena cada centavo guardado, horas extra no trabalho e as coisas que abri mão de comprar. Expandir a mente e conhecer mais do mundo é maravilhoso!
E, apesar da minha meta agora ser a primeira viagem internacional, digo que muitas vezes damos valor apenas para o exterior, mas o Brasil tem sim muito lugar fantástico para conhecer. Um país com mix de cultura, natureza e clima, que ainda espero me aprofundar.”
Texto: Ana Luiza Gonçalves
Fotos: Arquivo Pessoal
Já viajou sozinha e quer ver seu relato publicado aqui?
Me escreve no mariana@marianaviaja.com