Aeroporto do Galeão, Rio de Janeiro, quase meia-noite. Fazia um pouco de frio, acho. Na verdade nem sei se fazia mesmo. Sei que eu sentia. Talvez fosse o frio da barriga se espalhando pelo corpo todo. Primeira vez é assim mesmo que acontece, né?
Na fila do check-in, um funcionário foi passando para perguntar a cada um qual seria o destino final, já que, para a maioria, o Panamá era só uma conexão. Fiquei atenta às respostas de todos. Ninguém disse Cuba. Tudo bem. Estou indo só, eu sei que Havana não é um destino muito turístico, eu sempre soube disso. E, ainda assim, eu quis muito ir!
Embarquei em seguida, comprei um chocolate quente e me sentei. Um homem que estava pouco a minha frente na fila com a mulher e as filhas – de quem se despediu ao embarcar – se sentou ao meu lado. Estava indo para Cartagena, em um congresso. “E o que uma moça está indo fazer sozinha em Havana?”. Começamos a conversar – tudo o que eu queria naquele momento era alguém pra conversar – e foi ótimo ter uma companhia até que chegasse a hora do voo. Decolei mais tranquila.
Dormi e só acordei no Panamá. A conexão era rápida, acho que uns 50 minutos, então foi só mesmo o tempo de trocar de avião. Dormi de novo e acordei quando o avião estava pousando. Ansiosa.
Aeroporto Internacional José Martí, Havana, já perdida no fuso horário. Um motorista me esperava com uma plaquinha com meu nome. Eu tinha negociado isso antes com a Irina, que me ajudou na hospedagem em Cuba – fiquei na casa de uma senhora, alternativa comum por lá que, além de mais econômica, também me proporcionou a oportunidade de conviver mais com a realidade local.
Os primeiros momentos foram ótimos. O carro antigo, muitas fotos, o caminho passando por lugares conhecidos da cidade e outros nem tão conhecidos, lugares que têm mais a cara do país, o motorista me explicando tudo. Estava, realmente, muito animada! Mas eu teria, ainda, sete dias. Sete longos dias. Sozinha. E muitas dúvidas sobre como seria esse período naquele lugar tão diferente de tudo (e sem internet!!!). Acho que essa questão de ser um país diferente pegava mais do que o fato de estar só, embora fosse, também, minha principal motivação.
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Foi um misto de sensações. Eu curti um monte de coisas, não curti outras, e é a vida – nada nunca é 100% linear, seja viajando sozinha ou acompanhada ou mesmo não viajando. Sempre vai haver a chance de não curtir algo. Mas o saldo final foi muito positivo! Lembro que antes de viajar, em um dos textos que li ao fazer minhas pesquisas, tinha uma frase que dizia mais ou menos assim “gostei da experiência, mas gostei mais ainda de ter vivido essa experiência”.
E foi bem desse jeito mesmo. Foi bom ter ido e, principalmente, foi bom ter descoberto que eu podia viajar sozinha. Que podia ser legal, que estava tudo bem! Eu, que já morava sozinha há anos, que já tinha criado hábitos do tipo ir à praia ou ao cinema sozinha, acabava de fazer mais uma descoberta que iria mudar minha vida dali para frente. Uma opção a mais, uma liberdade a mais.
Depois disso já fiz incontáveis viagens na minha própria companhia, dentro e fora do Brasil, e cada vez me sinto mais à vontade nesse “papel”. Ainda há quem estranhe, lógico. Ainda tenho de responder sempre às mesmas perguntas, mas já não me irrito (tanto) com isso. Relevo as críticas e acho natural que as pessoas tenham certa curiosidade. Entendo os receios e até tenho alguns. A diferença é que não me paraliso por eles.
Tem a ver com empoderamento também, com autoconhecimento. E esse momento “Girl Power” que a gente está vivendo dá ainda mais força. Tudo bem não ter vontade de ir, tudo bem ir e não gostar, sou supercontra dizer que “toda mulher tem que viajar sozinha pelo menos uma vez”. Nada… Cada uma com suas escolhas! Mas não dá para negar que é uma experiência da qual não se volta igual!
PS: Depois de escrever esse texto achei que seria legal ter um espaço aqui no blog onde eu pudesse reunir o que já escrevi sobre viajar sozinha, quero falar mais e mais sobre isso, além de compartilhar histórias de outras mulheres que também já viveram essa experiência. Já vinha tendo algumas ideias e assim surgiu a página “Viajando Sozinha”. 🙂
Para ler ouvindo:
https://www.youtube.com/watch?v=sG1Ub8r8gO4
Excelente! Acho que além de empoderamento tem a ver com auto confiança.. saber que podemos sim fazer o que quisermos e sermos felizes com nossas escolhas! Adorei!!
oi Mariana…
Admiro muito as pessoas que enfrentam o frio na barriga e saem por aí, a desbravar o mundo! É uma jornada de autoconhecimento, mas de coragem também. Soltar as amarras faz com que nos sintamos mais felizes e até poderosas não é?!
Eu não viajo sozinha, tenho uma cara metade que há anos explora este mundão comigo, mas tenho meus momentos de estar só em uma cidade e tenho aprendido bastante e aos poucos vou derrubando alguns medos, aprendendo coisas novas. Muito outras boas viagens para você. bj
Oi Mari! Que lindo relato! Dá um orgulho da gente, né? É muito bom saber que a gente pode ser uma excelente companhia pra si mesmo, e que o mundo está esperando Oran nos receber, sozinhas ou acompanhadas. Tem muito tabu de mulher viajando sozinha. Eu acho que 90% dos restaurantes que entro sozinha perguntam: mas a senhora está esperando alguém? Rs acho que é mesmo normal essa curiosidade, essa dúvida, porque Ainda se associa muito estar sozinho a se sentir sozinho. E como diz a música que você citou, solidão, que nada! A gente está na melhor companhia, de descobrindo enquanto descobre o mundo 🙂
Eu adoro viajar sozinho. Já fiz várias viagens pelo mundo assim. Você tem liberdade para fazer o que quer e na hora que quiser. Nunca deixem de realizar um sonho por falta de companhia!
Que lindo post. Viajar sozinho é a uma experiência bem legal. Adoro meu marido e é uma excelente companhia, mas viajar sozinho tem muitos encantos. Adorei seu relato e parabéns pela iniciativa da série.