“Viajar só é um caminho sem volta e vicia” – por Carla Ribeiro

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“Viajar sempre foi um dos meus hobbys preferidos! Acho que já nasci com uma mochila nas costas e um sorriso no rosto pra sair desbravando esse universo que habito. Mas viajar sozinha não foi assim tão repentino…

Tudo começou de fato quando fiz intercâmbio lá em 2012, por um ano, em Salamanca, na Espanha. Eu nunca tinha viajado só e muito menos morado sozinha. Acabei dividindo apartamento, mas a experiência de estar em outro país, com uma língua diferente (embora todo mundo ache que é fácil desenrolar, mas não é bem assim!) e com um monte de desconhecidos, foi, ao mesmo tempo, paralisante e estimulador.

Foi daí que percebi que eu tinha que aprender a me virar sozinha, que eu não podia perder a oportunidade de fazer alguma coisa ou conhecer algum lugar porque não tinha ninguém disposto a ir comigo. E assim surgiram as primeiras excursões sozinhas a cidades próximas. Era uma sensação tão boa, uma liberdade tão incrível, que essa vontade só crescia!

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Dentre elas a que mais me marcou foi a ida a Valência durante um famoso e típico festival que ocorre por lá, as Fallas de Valência. Eu tinha visto uma reportagem há muito tempo na TV e fiquei encantada. Quando coincidentemente estava naquelas bandas, decidi que iria aproveitar a oportunidade. Fui de excursão, mas foi a primeira vez que viajei sozinha. Lembro que o ônibus estava cheio de famílias, casais, grupos de amigos, e as pessoas me olhavam com aquela típica interrogação estampada no rosto.

Ao chegar na cidade o grupo se dispersou e eu fui então explorar a festa, os monumentos típicos. Fiz muita amizade com o pessoal nas ruas. Até com o tiozinho que vendia balões e me emprestou os dele para que eu tirasse foto.

Lembro de uma outra situação onde tinha um casal de bonecos de madeira que você coloca o rosto e eu estava na fila para tirar uma foto. Pedi a senhora que estava atrás de mim para que me fotografasse. Ela prontamente perguntou se eu estava sozinha e mandou o marido me fazer companhia. Disse que não ia me deixar ficar só na foto! Achei muito fofo da parte dela.

Quando voltei do intercâmbio surgiu a oportunidade de me mudar de estado para estudar. E assim fui morar em Roraima. Durante esse tempo ganhei em um congresso um valor para viajar. Podia escolher levar alguém ou ir sozinha. Como levar alguém me restringiria a ficar no Brasil, acabei escolhendo ir sozinha pra Cancun. Também não foi exatamente sozinha, pois tinha o suporte da agência, tive transfer para me pegar no aeroporto com direito a plaquinha, o meu hotel foi reservado pela agência, com tudo incluso. Mas, novamente, estava sozinha em outro país e por conta própria.

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Confesso que fui um pouco ingênua nessa primeira viagem. Não sabia fazer roteiros, nem me preocupei em pesquisar o que a cidade tinha a oferecer. Sinto que pequei por inexperiência. Podia ter aproveitado muito mais. Porém, a viagem foi incrível. Fiz amizades que mantenho até hoje, consegui entrar sem pagar na Coco Bongo e, de quebra, ainda peguei a época do spring break.

Vieram outras viagens sozinha e acompanhada depois disso, dentro e fora do Brasil. Até que agora em 2019 surgiu a oportunidade de viajar literalmente sozinha para outro país: o Uruguai. Em 2016 fui à Argentina, mas não consegui esticar. Em 2018 eu e meus irmãos  resolvemos que iríamos levar nossos pais para conhecer Buenos Aires. E daí pensei: minha oportunidade de ir até o Uruguai (Montevideo, Punta del este e Colonia del Sacramento). E assim foi, mas dessa vez fiz tudo diferente, tudo bem pesquisado, planejado e calculado. Me despedi da família, coloquei a mochila nas costas e fui em busca de mais uma aventura.

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E já comecei com perrengue. Ao chegar na rodoviária, me deparei com tudo fechado. Era dia 1° de janeiro e lá literalmente nada funciona. Toda minha programação e roteiro de sair de lá, trocar dinheiro, pegar o ônibus e ir até o hostel foi por água abaixo. Confesso que fiquei um pouco apreensiva. Mas, ao mesmo tempo, ficava rindo sozinha e pensando como eu era lesa por não ter pensado nisso. Tá aí um dos pontos positivos de viajar só: você pode fazer a besteira que for que não vai ter ninguém pra pegar no seu pé e você vai poder resolver do jeito que achar melhor. Um dos pontos ruins é ter que bancar sempre o táxi e, às vezes, não conseguir aquela foto maravilhosa que você tanto queria…

Eu podia escrever mais um monte de linhas sobre como é bom viver essa experiência, sobre as vantagens, os cuidados que se deve ter, planejamento… mas já me estendi demais por aqui. Então, para concluir, queria deixar umas dicas pra quem está pensando em se jogar nessa aventura.

A primeira delas é: vá! Comece por um fim de semana em uma cidade perto, mas vá! Quando você começar a sentir o gostinho da liberdade, a sensação de ser dona do seu próprio destino, de todas as suas escolhas…. já era.

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Outra dica que dou é que se hospede em hostel. Além de ser uma boa alternativa em economizar, é ali onde você vai fazer amizades, encontrar companhias para dividir passeios, rachar o táxi, trocar experiências. Eu não ligo de compartilhar quartos, mas quando estou sozinha escolho sempre os femininos.

Estude bem o local que pretende ir, melhor época do ano, roteiros, o que abre e fecha nos dias em que você estará na cidade. É muito comum alguns viajantes se encherem de expectativas para visitar um determinado museu e, quando chegarem na cidade, descobrirem que ele não abre justamente nas segundas-feiras, por exemplo.

Leve apenas uma mochila. Me baseio no fato de só levar aquilo que eu consigo carregar sozinha. Sei que muita gente vai dizer que mala de rodinha é mais pratica e blá blá blá, mas, vai por mim, quando o bicho pega a melhor coisa é poder colocar nas costas sua “casinha” feito caramujo e ir andando. Confesso que não é tão fácil fazer todas as suas coisas caberem em uma coisinha tão pequena, mas com a prática você vai aperfeiçoando. Sofri no começo, mas hoje morro de rir quando as pessoas olham para e mim e falam: nossa você é tão básica, jura que ta viajando só com isso? Ou quando olho meninos carregando malas monstruosas e eu plena com minha humilde mochilinha.

Por fim me despeço e digo que, baseada em minha experiência, viajar só é um caminho sem volta e vicia!”

Texto: Carla Ribeiro
Fotos: Arquivo Pessoal

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