“Um mergulho para dentro da alma” – por Daniella Negrão

viajar-sozinha-daniella-negrao

“Já fazia um tempo que eu não estava satisfeita com a vida. Correrias, estudo integral, cálculos, trabalhos, provas, falta de tempo para tudo… e assim foi minha vida durante meus 5 anos de faculdade.

Já fazia um tempo que minha alma berrava pedindo algo mais, pedindo “loucure-se”, ou simplesmente esperando que algo fizesse sentido.

Eu esperava muito por esse momento em que eu terminasse minha faculdade para dizer aos meus pais ou quem mais me importava: “dever cumprido, agora estou indo viver minha vida”. Cursei Engenharia de Produção, tive um momento tão grande de desgaste por não estar gostando do curso, mas eu devia terminar em respeito ao investimento dos meus pais, ou assim achava, pelo menos. Porém, como eu tinha esse objetivo de me jogar no mundo assim que me formasse, comecei a tentar bolsas em projetos da faculdade para que eu pudesse ir juntando grana. Com muito esforço juntei uma grana e em Agosto/2018 me formei.

Leia também:
Histórias de mulheres viajando sozinhas

Eu sabia que o universo preparava algo grandioso para mim, estava empolgada fazia muito tempo por entrar de cabeça no autoconhecimento, mal sabia eu o tamanho de tudo que estava por vir.

A Nova Zelândia tem uma parceria com o Brasil, ela abre uma vez por ano, em agosto, 300 vistos para brasileiros poderem trabalhar viajando no país por um ano. Há apenas alguns requisitos, bem básicos, a serem cumpridos. O visto é bastante concorrido, mas, quando é para ser, as coisas acontecem. Então, depois de muito pesquisar, esse foi o visto que mais chamou minha atenção por ser mais barato e em um país tão incrível.  Consegui e me joguei para Nova Zelândia sozinha.

Viajar para literalmente o outro lado do mundo, atravessar oceanos, ir sozinha, me jogar no desconhecido, deixar tudo para trás, desistir de passar a vida “construindo carreira” no Brasil para definitivamente ir viver, sair da zona de conforto, com todos os meus medos, com certeza foi um salto gigante na minha vida. Um mergulho para dentro da alma.

Viajar sozinha é olhar pra dentro de si o tempo todo e aprender a ouvir as próprias intuições, pois, no final, você sempre só terá a você mesma. É aprender a ser mais alma e menos razão, pois as melhores coisas vêm quando ligamos a frequência da alma. É aprender a ser tão sua como jamais imaginou, o amor próprio cresce, a autoconfiança fica forte, a alma berra, é libertador. É libertador ser você mesma em qualquer lugar sem ter que ouvir as pessoas dizendo o tempo todo opiniões do que você devia fazer com sua vida. É libertador ir onde você quer e estar aberta a tantas possibilidades do universo. É libertador estar tão presente no agora, observar os detalhes que nunca conseguiu enxergar, deixar a ansiedade para trás por ter ficado muito tempo preso em preocupações do presente ou passado. Desde então tenho deixado me levar pelas possibilidades do universo.

viajar-sozinha-daniella-negrao1

A primeira casa onde eu morei na Nova Zelândia parecia que eu estava em um conto de fadas, eram muitos tons de verde para todos os lados. A natureza vibrava em todos os lugares.

Depois disso, resolvi me jogar mais ainda mais no autoconhecimento e me inscrevi para morar em um lugar onde acontecem retiros de yoga, meditação e muitas outras aulas de puro aprendizado. Kawaia Purapura fica no meio de natureza exuberante, o lugar é incrível, morar em Kawaia é indescritível.

Viver aqui no agora quando se está exatamente onde queria estar é fácil. Esse lugar tão especial é paz para o meu coração, acordar com as aulas de yoga e meditação, morar com pessoas de várias nacionalidades (são uns 10 países diferentes), essa troca de experiências com pessoas tão diferentes e que vão se conectando e se tornando uma família. Acordar no meio dessa imensidão de natureza tão vibrante todos os dias faz meu coração vibrar em alta frequência.

Não vou dizer que tudo são flores. Eu trabalho 18 horas semanais voluntárias em Kawaia em troca da hospedagem, trabalho fora mais umas 30 horas por semana para guardar um dinheiro e poder continuar minha trip pelo país em breve, já passei inúmeros perrengues, e tenho um inglês bem intermediário, o que dificulta muito mais. Tem que ter força de vontade, sim, e também pelo fato de ter um diploma e ter que “rasgar” para começar tudo de novo. Abrir mão da zona de conforto dói. Às vezes não entendo nada do que as pessoas estão falando, pois muitos têm um sotaque bem forte, é desesperador, mas no final dá tudo certo e eu dou risada disso. E me conheço cada vez mais.

Afinal, tudo isso é relativo, tudo se tornou tão pequeno perto da minha felicidade em poder dar esse grito de liberdade, por estar desbravando tantos paraísos e principalmente pelas pessoas tão maravilhosas que conhecemos no caminho.

Viajar é isso, quebrar paradigmas, abrir a mente para o novo, abraçar a vida presente. As lições grandiosas que eu tenho tirado aqui é que nós somos maiores do que qualquer medo que pensamos ter. Não há nada no mundo que pague pela nossa liberdade, digo liberdade da alma. Não há nada que não possamos fazer, que não possamos alcançar. Detalhes, as grandes coisas estão nos detalhes. Vida, nós somos os nossos próprios responsáveis por cada acontecimento das nossas vidas. Por isso faça, se jogue, se invente, se reinvente, mergulhe na sua alma e aventure-se, pois a vida é isso, uma grande aventura esperando para ser descoberta.”

Texto: Daniella Negrão
Fotos: Arquivo Pessoal / Instagram @daninegraoo

Já viajou sozinha e quer ver seu relato publicado aqui?
Me escreve no mariana@marianaviaja.com

 

Conheça meu livro de crônicas "Eu não quero chegar a lugar algum" e entre em contato para adquirir o seu no formato digital ou físico.