Por dentro da Academia Brasileira de Letras: como fazer visita guiada

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Fazer uma visita guiada à Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, é estar, por alguns momentos, em espaços já frequentados pelos principais nomes da nossa literatura e ver de perto o Salão Nobre, as salas com pinturas e mobiliário de época, os bustos de alguns acadêmicos, o Salão Francês onde novos membros ficam um tempo sozinhos para refletir, a Biblioteca, a Sala de Chá onde todas as quintas-feiras os atuais membros se reúnem antes da Sessão Plenária, entre outros…

Mais que poder conhecer os lugares, eu gostei por ser uma visita é teatralizada, ou seja, guiada por uma atriz e um ator, caracterizados como no período em que a instituição foi fundada. Eles conduzem os visitantes contando sobre a história de tudo e também curiosidades da vida e da obra de alguns acadêmicos.

Uma pena que, lá dentro, não é permitido fotografar. Mas é um local que vale a pena conhecer, especialmente quem gosta de literatura, de passeios históricos e culturais!

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Sobre a Academia Brasileira de Letras

A sede da ABL é uma reprodução do Petit Trianon de Versalhes, na França, construído pelo governo francês para ser a representação do país na exposição internacional comemorativa do centenário da Independência do Brasil. No ano seguinte (1923) foi doado à ABL. Mas a instituição já existia antes disso.

A ideia de fundar uma academia literária nacional partiu de escritores e intelectuais no fim do século XIX. As primeiras notícias foram divulgadas em 1896, mas o surgimento oficial foi só em 20 de julho de 1897, contando com 40 nomes.

Desde o início Machado de Assis foi proclamado presidente, função que ocupou até sua morte, em 1908. Foi dele a primeira fala na sessão de abertura da ABL. “Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles o transmitam aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira. Está aberta a sessão.”

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Em homenagem a ele há uma estátua logo na entrada (fundada no seu 90° aniversário de nascimento) e, dentro da ABL, uma sala com alguns de seus móveis e objetos pessoais. É a única parte onde é permitido fotografar.

A história que ninguém conta

Uma curiosidade que pouca gente sabe é que uma mulher fazia parte do grupo que fundou a Academia Brasileira de Letras. No entanto, seu nome nunca constou em nenhum dos registros ou fotos.

A escritora Julia Lopes de Almeida foi uma defensora da educação feminina, da abolição da escravidão, e se tornou uma das escritoras mais publicadas da Primeira República (1889-1930), com artigos em jornais e revistas de grande circulação, sempre abordando temas como os direitos sociais e a vulnerabilidade da mulher de sua época, além de ter publicado várias obras para o público adulto e também infantil.

Mesmo ela tendo participado de todas as reuniões de fundação, a cadeira número 3, que deveria ser dela, foi concedida ao seu marido, o poeta Filinto de Almeida. Isso porque, na época, mulheres não eram permitidas na ABL – o que inclusive demorou muito para acontecer.

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Alguns dos fundadores – BN, Domínio público, via Wikimedia Commons

A primeira candidata foi Amélia Beviláqua, em 1930, mas foi rejeitada pois, no estatuto, constava apenas o termo “brasileiros” que, segundo disseram, se referia apenas ao sexo masculino. A segunda mulher a se candidatar foi Dinah Silveira de Queiroz, na década de 1950, que também foi rejeitada.

Só em 1976, quase 80 anos após a fundação da ABL, é que a questão mulher enfim voltou a ser discutida e foi aprovada. Assim a escritora e jornalista cearense Rachel de Queiróz se tornou a primeira acadêmica do sexo feminino a ser eleita.

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Posse de Rachel de Queiroz – Arquivo Nacional, Domínio público

A partir daí, outras mulheres foram ocupando cadeiras na instituição, embora ainda hoje o número seja bem inferior que o de homens – apenas oito em mais de 120 anos. Dinah Silveira de Queiroz se candidatou novamente e foi aprovada. Depois vieram Lygia Fagundes Telles (1985), Nélida Piñon (1989), Zélia Gattai (2001), Ana Maria Machado (2003), Cleonice Berardinelli (2009) e Rosiska Darcy (2013).

Em 2017 a ABL reconheceu a injustiça cometida no início e incluiu Júlia entre autores que poderiam ter sido membros. Ela foi citada também no discurso de posse do jurista e autor Joaquim Falcão, em 2018.

Visita guiada à Academia Brasileira de Letras

Algumas dessas informações extras eu soube porque fiz o passeio na ABL com a Sou Mais Carioca, que tem vários tours incríveis pelo Rio de Janeiro. Outros que já fiz:

Doces Histórias – um tour pelas confeitarias do centro do Rio Pequena África: passeio que é um resgate da nossa história

Além da visita propriamente dita, a guia Raquel Oliveira nos contou curiosidades, contextualizou o histórico da instituição com outros lugares do centro da cidade e nos levou também ao Palácio Austregésilo de Athayde, que fica ao lado do Petit Trianon e conta com espaço para atividades culturais da ABL.

Depois, ainda fomos à confeitaria mais antiga do Rio, a Casa Cavé, que foi frequentada por nomes como Carlos Drummond de Andrade, Juscelino Kubitschek, Chiquinha Gonzaga e Olavo Bilac.

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A visita guiada na Academia Brasileira de Letras acontece todas as segundas, terças e quartas às 14h. A entrada é gratuita e a idade mínima para participar é 12 anos. Basta agendar pelo telefone (21) 3974-2526 ou pelo email visita.guiada@academia.org.br e chegar com alguns minutos de antecedência. O endereço é Avenida Presidente Wilson, 203, Centro, Rio de Janeiro/RJ.

* Fontes de pesquisa: DarkSide Books, TAG Livros, Biblioteca Nacional Digital 

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