Quando as águas de março chegaram fechando o verão, já era abril e já era outono. Escrevi e salvei esta frase ano passado para fazer um texto que nunca veio. Agora já é outro ano, mas ainda é igual. Ou nem tanto.
Outro aniversário, outro não-Carnaval, quanto tempo falta para a Copa do Mundo?
Eu não falei de tanta coisa. Eu não falei do Paulo. Nem da Marília. Nem da Elza. Não falei da vacina, do Ronaldo Fenômeno, do filme Eduardo e Mônica, do Gil na Academia Brasileira de Letras e até do outro Gil, o do Vigor. Porque a vida é boa às vezes.
Mas ando numa fase meio Adélia Prado. Olho pedra, vejo pedra mesmo. De vez em quando o mundo nos tira a poesia.
“O mundo, cheio de departamentos, não é a bola bonita caminhando solta no espaço.”
Eu juro que queria escrever sobre coisas bonitas. Queria até usar a palavra boniteza, que eu acho que soa melhor nesse sentido. Queria endurecer sem perder a ternura, como companheiro Ernesto. Ou, como Milton, falar da cor dos temporais, do céu azul, das flores de abril. Sinais de bem, desejos vitais, pequenos fragmentos de luz.
E aí me peguei pensando em como meus textos sempre vieram de um lugar de descontentamento, de questionamento. E talvez seja um estilo. Se eu fumasse ou bebesse café ia combinar bem, mas nem isso.
Para ler ouvindo:
Foto: Imagem de Dieter Staab por Pixabay