“E você vem de onde?”
Recém-chegada a uma nova cidade, era natural que essa pergunta fosse feita. Eu titubeava antes de responder. Venho de onde, no sentido de onde eu estava antes de vir morar aqui? Ou venho de onde no sentido de onde eu sou, da minha origem?
Costumava responder a primeira e já emendar a segunda. “Do Espírito Santo, mas sou mineira”. Aí, quem tinha mais ligação com o ES se apegava nessa informação, falava dos lugares de lá. Quem tinha mais contato com pessoas ou cidades de MG, fazia o mesmo. Assim as conversas seguiam.
E o Rio de Janeiro, de repente, não fazia mais parte dessa equação. Nem sempre cabia – quase nunca cabia – dizer que estava vindo do ES, mas que sou mineira e morei 10 anos no Rio. Eu não sabia como nem onde encaixar esses 10 anos no Rio. Não que eu precisasse. Ou talvez eu precisasse, sim.
Na minha biografia aqui no blog, onde antes estava “morou no Rio e hoje mora no ES”, também titubeei ao atualizar e acabei deixando apenas “Mineira que hoje mora no litoral norte de SP”. Mas não foi simples e até hoje me pego pensativa.
O Rio foi um capítulo importantíssimo da minha vida. O de maior duração, desde que saí de casa. O de maior intensidade, desde sempre. Tudo o que eu vivi no Rio e a partir do Rio tem uma importância enorme na minha vida. É uma história que tem um tamanho maior que os 10 anos que o calendário marcou. E por isso eu não sei direito como encaixar. Porque não há espaço suficiente para caber.
Me peguei cantando “foi um rio que passou em minha vida” e fiz uma analogia com o correr das águas. Que quando caem no mar, viram parte dele e fica impossível delimitar e definir. Mas está ali. Acho que é mais ou menos isso a vida. Ainda que não seja o lugar de onde eu sou ou de onde eu vim agora, o Rio está aqui. Em mim.
Curiosamente, na véspera da mudança compartilhei um texto que falava sobre isso. Que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano.
É que no fundo eu sinto medo de que tudo tenha ficado pra trás. Desse passado que vai ficando cada vez mais distante. Até ser mesmo só uma página em meio a tantas. Apego, que seja.
Claro que quando as conversas se estendem, quando alguma relação se estabelece, o assunto entra em pauta. Porque eu adoro falar do Rio, porque eu tenho muito mais para falar do Rio do que de qualquer outro lugar. Eu quero que essa história permaneça não só internamente em mim, mas quero seguir sendo a pessoa que morou no Rio. Não como uma passagem. E sim como um marco.
Inclusive dia desses me peguei falando: “Vim do Rio. Sou mineira, mas morei muito tempo lá, passei pelo ES e vim”. Fez mais sentido. Talvez eu passe, daqui pra frente, a falar assim.
Para ler ouvindo: