De vez em quando vejo por aí algum texto dizendo que, especialmente para mulheres, viajar traz mais felicidade que casar. Eventualmente até me marcam achando que, por ser/estar solteira e gostar de viagens eu vá me identificar. Mas não. Pelo contrário. Eu detesto esse tipo de comparação e acho uma coisa completamente sem cabimento.
Existe viajar x ficar em casa. Ou casar x ficar solteira. Mas escolher entre viagem e casamento não rola porque não são coisas excludentes. São atitudes de categorias diferentes.
O que acontece é que entre casar x ser solteira, uma pessoa pode escolher a solteirice; e entre viajar x ficar em casa, pode escolher viajar. Ou seja, a pessoa escolheu não casar e sim viajar. Mas não é que prefira uma coisa à outra. Da mesma forma que se eu perguntar se você prefere azul ou amarelo e você escolher azul, e se eu perguntar se prefere montanha ou praia e escolher praia, seria absurdo dizer que você prefere azul que montanha.
Viajar ou ter festa de casamento, essa sim seria uma escolha, porque é uma questão de definir como cada um prefere gastar o dinheiro. Mas colocar relacionamento como oposto a viagens, apenas não!
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Eu sei, há pesquisas que mostram a preferência por uma coisa ou por outra, e não que eu duvide da veracidade delas. Mas é uma pergunta totalmente tendenciosa, assim como o recorte de público. Se a pesquisa for feita entre mulheres solteiras, perguntando se a prioridade delas seria uma viagem ou casamento, é óbvio que ninguém vai responder casamento, porque não tem como isso ser prioridade na vida de quem nem tem um namorado ou noivo (ou namorada ou noiva). Já se a pergunta é para quem está em um relacionamento e planejando viver junto, é mais natural que priorize naquele momento se casar do que fazer uma viagem. Então fazer uma pesquisa com um recorte de público e divulgar o resultado como sendo uma tendência de comportamento não faz sentido.
Outro ponto é sobre o empoderamento feminino, tema sobre qual escrevo bastante e tenho sempre certo cuidado, porque sei que muita gente ainda não entende de forma distorcida. E aí colocam isso gerando uma rixa inexistente e desnecessária. Olha, o movimento não é nem nunca foi sobre se casar ou não. Ser independente não significa abrir mão de se relacionar. Significa estar bem o suficiente para não cair em qualquer furada, segura de si o suficiente para não ficar se humilhando e mendigando atenção/aprovação. Significa estar numa boa com você mesma, o que sempre falo no #SouMinhaMelhorCompanhia. Mas se pintar alguém que acrescente, meu amor… se joga! Alguém que viaje junto com você em todos os sentidos e que apoie também sua liberdade de voar por aí sozinha!
O que se questiona é a imposição social do casamento, a forma como ainda julgam uma mulher que não se casou em determinada idade. Mas criticar a pressão social para que mulheres se casem não é criticar as mulheres que se casam. Nem o casamento em si. Não tem ninguém pregando solteirice como algo obrigatório, até porque isso também seria estabelecer um padrão quando, na verdade, a busca é pela quebra deles. Se o empoderamento for por este lado, está indo errado.
É por isso que eu acho que uma pergunta como esta, sobre preferir viajar ou casar, só reforça a estrutura machista da sociedade de achar que o casamento é impeditivo para que uma mulher continue seguindo seus sonhos, ainda que individualmente. Curioso é que para homem ninguém pergunta, né? Pois é.
Solteira ou casada, se for viajar reserve sua hospedagem!
* Fotos: Pixabay
Mariana,
Parabéns pela reportagem, gostei muito!
Nossa sociedade ainda é muito machista, percebo isso principalmente qdo vou para lugares mais no interior, onde a troca de vivências as vezes é mais restrita.
É muito frequente sermos vistas como um animal de estimação, que precisa de um dono.
Verdade, Indiara. Falou tudo! É exatamente assim, mas aos poucos vamos quebrando essas barreiras, certo?