Viajar não é só turismo!

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No dicionário, viajar é ir de um lugar para outro. Movimentar-se por, passar por um caminho, estrada, percurso, visitar certos locais. Ou apenas um verbo intransitivo. Viajar. Ponto. Na Wikipédia consta que segundo a Organização Mundial de Turismo são atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem. Tem também o sentido figurado de delirar ou alucinar, de ir longe com os pensamentos.

Todos esses significados têm a ver com o nome “Mariana Viaja”, que desde o início coloquei tanto no sentido literal como no metafórico. Sempre deixei esse “viaja” em aberto porque minha ideia sempre foi falar de algo mais amplo – por aqui as dicas de turismo sempre andaram lado a lado com crônicas, livros, filmes, reflexões, comidas, histórias, cotidiano, arte, notícias, até angústias.

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Sobre viagens

Na minha vida isso já era assim bem antes até do blog. Acho que até mesmo antes de viajar de fato. E depois também. Minhas viagens nunca foram algo restrito a visitar os pontos turísticos e fim. Claro que eu adoro os lugares clássicos, eu amo um clichê. Mas cada viagem toca a gente em algum lugar. Às vezes é sobre pessoas. Às vezes sobre comida. Sobre fazer pensar. Quebrar paradigmas. Sobre ver um lugar que foi cenário de um fato importante da história ou mesmo de histórias fictícias que li ou assisti. Acho que por isso o viajar sempre foi algo que me encanta tanto, que me faz tão bem.

Ter essa visão mais ampla foi importante também porque me ajudou a ter sempre repertório para produzir conteúdo.  Afinal, ter um blog de viagens, não é, necessariamente, ter um blog só de dicas turísticas – embora possa, sim, ser.

Mas vejo que, agora, com a pandemia do novo coronavírus e a quarentena obrigatória no Brasil e em diversos cantos do mundo, a cabeça de muita gente deu um nó. Como fazer conteúdo de viagem quando não dá mais para viajar no sentido literal da palavra?

E por falar nisso…

Bem no começo desse período escrevi o texto “O mundo em colapso e a gente aqui falando de viagem”, no qual explanei minha dificuldade em continuar produzindo diante de acontecimentos ruins e principalmente agora quando sabíamos que as viagens presenciais não seriam mais uma realidade.

Mas logo percebi as inúmeras possibilidades que podem ser exploradas a partir disso. Porque o “viajar sem sair de casa” sempre foi uma realidade por aqui. Minha dificuldade atual tem sido só o meu timing mesmo, de nem sempre estar bem ou em condições de criar. Minha questão, portanto, não é mais o como fazer, e sim o para que fazer.

Para mim, nunca foi sobre quando vamos poder viajar de novo, sobre lugares que queremos visitar quando tudo isso passar, sobre onde gostaríamos de estar agora ou sobre aproveitar a quarentena para planejar. Ninguém sabe quando será possível ou como vai ser. Tentar a qualquer custo criar (e despertar) expectativas acaba sendo frustrante. Acho até que nem é hora de pensar nisso – papo pra outro texto que talvez eu ainda escreva…

Sinto falta de sensações, mas não consigo pensar em lugares. E, de verdade, nem tenho cabeça. É legítimo sentir falta do que fazia antes, mas aqui falo muito mais como quem produz conteúdo e a responsabilidade que isso tem que como “pessoa física”. Em um momento como o que estamos passando em todo o mundo, não faz nem sentido esta ser uma preocupação – não que seja errado e cada um com seu cada qual, mas é um nível de privilégio (e/ou de alienação) que nem sei…

Tem gente doente, gente morrendo, gente na linha de frente correndo risco, gente desempregada, gente fechando empresa, gente sem grana, gente debochando e perguntando “e daí?”

Ao invés de ocupar o tempo pensando em viajar agora ou lamentando não poder, se a vontade for mesmo assim tãaaao incontrolável, sugiro ler sobre lugares, sobre história, ouvir músicas, assistir a filmes, fazer receitas típicas, organizar velhas fotos, buscar informações. Se expandir. Aproveite para repensar seus hábitos, redefinir suas prioridades, inclusive sobre o próprio ato de viajar. Não é preciso sair de casa para sair da bolha.

Leia também:
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Afinal, o que é viajar?

Pouco antes disso tudo, coincidentemente, tínhamos falado sobre o tema em um episódio do podcast Além do Olhar, que faço junto com a Amanda do blog As Viagens de Trintim. Tivemos como convidadas a Natália, do 360 Meridianos, e a Klécia, do Fui Ser Viajante. Conversamos sobre nossas percepções enquanto viajantes e também do outro lado, de quem produz conteúdo sobre o tema.

A ideia surgiu lá atrás, quando vimos uma discussão sobre conteúdos que seriam ou não pertinentes em blogs de viagens. A partir daí, pensamos em ampliar o debate e veio o episódio do podcast.

Falamos como uma viagem se torna muito melhor quando a gente consegue ver e vivenciar de outras formas. Sobre aprender com o diferente, entender desigualdades, ter mais noção do social. Falamos sobre literatura, filmes, história e como essa bagagem agrega muito até mesmo nos passeios (ou nos conteúdos) mais básicos.

O que a gente nem imaginava é que em pouco tempo o “não-viajar” seria a nova realidade. E que, assim, todo mundo que fala do assunto e/ou trabalha na área teria de se reinventar.

O novo turismo

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Foto: Yaneev por Pixabay

O turismo foi um dos setores diretamente impactados pela pandemia de Covid-19. E o funcionamento possivelmente será diferente quando esse período passar, nosso modo de viajar será outro.

Ao que tudo indica, ainda estamos, infelizmente, longe do pico da curva. Mas já vi um monte de “Mãe Dinah” com previsões sobre o turismo pós-pandemia (ainda que sejam apenas suposições e não afirmações concretas – aliás, por isso mesmo é que não deviam ser ditas). Falta de sensibilidade, de noção ou falta de assunto?

Quem pode dizer como ou quando são os especialistas no assunto – da área de saúde muito mais até que da área turística. E o que se tem até agora é apenas especulação. De concreto, dá pra dizer apenas que o turismo como a gente conheceu e viveu um dia não existe mais. Mas viajar é outra história… e isso dá para continuar fazendo. Sempre! Do jeito que cada um achar melhor.

 

Foto principal: DarkWorkX por Pixabay

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