Não, este não é um texto para desencorajar ninguém a viajar sozinha. Pelo contrário! É um texto que talvez até encoraje mais gente sair por aí. Você já vai entender porquê!
O número de mulheres que viajam sozinhas é crescente e o tema está em alta, principalmente porque tem tudo a ver com esse momento maravilhoso de empoderamento feminino que estamos vivendo, de mulheres descobrindo seus potenciais e sua força.
Acontece que, a partir disso, acho que muita gente começou a romantizar demais, a falar de viajar sozinha como se fosse a oitava maravilha do mundo, como se fosse a certeza de uma experiência transformadora pela qual todo mundo deveria passar pelo menos uma vez. Viajar sozinha virou quase que tema de autoajuda nas redes sociais. E eu acho isso péssimo!
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Mas Mariana, como assim, se você fala tanto sobre isso, se está sempre tentando inspirar mais mulheres, como que você acha ruim? Pois é! Eu acho que quando uma coisa, seja ela qual for, começa a ser “endeusada” demais, colocada como algo perfeito, fica perigoso. E agora, ao mostrar que nem tudo são flores, espero poder ajudar ainda mais.
Porque quando alguém mostra só o lado maravilhoso, quem está de fora pode se sentir frustrada por não ter sido assim, por não conseguir ir ou mesmo por ter ido, mas não ter atingido o ápice da evolução e do autoconhecimento ao viajar na própria companhia. Então eu vim dizer que tudo bem. Às vezes é chato, às vezes é diferente do que a gente sonhou, tudo isso é normal…
Você pode não estar em um bom momento
Já tive viagens que planejei, mas, alguns dias antes de ir eu não estava bem. Resolvi ir assim mesmo. E não foi tão legal. O lugar era bom, era bonito, as pessoas eram bacanas, mas eu não estava num bom momento. Não consegui aproveitar.
Eu fiz os passeios, turistei, mas no fundo eu não estava feliz ali. Paciência. Se acontecer com você, saiba que não tem nenhum problema nisso. Todo mundo tem seus altos e baixos. E a gente muda, cada viagem é diferente.
A solidão pode bater
Seria mentira dizer que não. Eu me viro muito bem estando sozinha, independente de ser viajando. Eu já moro sozinha, trabalho de casa, para mim não é nenhum problema. Mas tem dias que a gente tá mais pra baixo, não sei. Acontece. E pode, sim, acontecer no meio de uma viagem.
Mesmo conhecendo gente ou mesmo estando numa boa sem ter gente, de repente vem uma sensação de que seria bom ter alguém junto, seja por algo que você viu e queria compartilhar, por alguma situação que viveu.
Nem sempre vai conhecer outras pessoas
Tenho até um texto sobre isso. E acho que é uma das piores expectativas que a gente pode criar nesse tipo de viagem. Achar que vai chegar e conhecer muita gente e ter companhia para sair. Nem sempre acontece, até porque fazer amizade é algo que não depende só da gente, depende do outro.
Eu sempre digo que o ideal é ir preparada para estar com você mesma. Se aparecer mais gente, ótimo. Se não, tudo bem também.
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Não vai dar para fazer tudo
Tenho plena consciência de que às vezes vou precisar abrir mão de alguma coisa, algum passeio, por não ser possível fazer sozinha. Às vezes tem um lugar que você quer muito ir e se sente insegura, não consegue ir por conta própria, não encontra uma empresa/agência que ofereça, e acaba tendo de riscar do roteiro. Já achei frustrante, já aprendi que faz parte. Não diminua sua viagem por causa disso.
As fotos podem ficar ruins
Selfies ou fotos que a gente pede para uma pessoa aleatória tirar nem sempre saem do jeito que a gente gostaria. Eu tenho ficado cada vez mais cara de pau nesse sentido, de pedir, mostrar o ângulo que eu quero, fazer várias, pedir outra pessoa, até ter alguma que eu goste.
Já compartilhei aqui algumas dicas. Mas às vezes mesmo com muitas tentativas não dá certo e as lembranças vão ser mesmo aquelas selfies com a cara de bolacha e um pedaço de paisagem ao fundo.
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Não vai ser perfeito
As pessoas costumam mostrar nas redes sociais (e contar pessoalmente) só o que foi bom. Mas isso não significa que tudo foi bom. No texto sobre a minha primeira vez viajando sozinha falei que não foi tudo 100%, mas viajar a dois, em família, em grupo ou como for, nem sempre é 100% também. Ou seja, isso não é um problema e, menos ainda, um problema por estar viajando sozinha.
Então, se em algum momento não for bom pra você, nada de desistir ou de pensar que não deu certo. É assim com todo mundo. De outra vez pode ser diferente.
Perrengues acontecem
Fora tudo isso aí que é absolutamente normal, de não ser sempre bom ou perfeito e não sair como planejado, tem, ainda, os perrengues. Quem nunca? O ônibus errado, o voo perdido ou cancelado, o horário encerrado, a comida cara e ruim, a hospedagem horrível, a grana que caiu na rua, o celular que deu defeito, o taxista que deu voltas, a chuva que desabou no caminho…
Tem horas em que a única vontade é sentar no meio da calçada e chorar. Se acompanhada isso tudo já é difícil, sozinha a sensação é de que o mundo poderia acabar ali mesmo. Mas depois passa.
E o tal autoconhecimento?
Aqui faço até uma mea culpa porque já bati tanto nessa tecla do autoconhecimento, do aprendizado, de como é importante estar comigo mesma, de como isso ajuda todo mundo a se conhecer melhor, se fortalecer e tudo mais. Verdade, eu acredito nisso, eu vivo isso.
Mas gente, de novo, a vida não é assim toda linear. A gente pode fazer uma viagem acreditando que vai ser um momento de conexão e crescimento pessoal e isso simplesmente não acontecer. Então relaxa! Não se cobre esse tal autoconhecimento que eu e tantas adoramos falar. Foque em curtir a viagem e não fique achando que tem de ter algo a mais.
Mas tudo bem não gostar!
Não existe superioridade ou inferioridade nisso. Ninguém é melhor ou mais evoluída por ter feito uma determinada viagem, por considerar que foi um crescimento pessoal e outras coisas do tipo. Desde o meu primeiro texto aqui eu bato na tecla de que ninguém precisa viajar sozinha, ninguém tem que passar por essa experiência se não quiser.
E digo sempre, também, que não dá para usar uma experiência pessoal como parâmetro para definir o que faz bem para todo mundo. O que faço é mostrar que, caso você tenha essa vontade ou necessidade, não vale a pena se privar – e é aí que entra o trabalho de compartilhar histórias e tentar inspirar mais gente. Mas às vezes não é para você. Assim como algumas coisas não são para mim.
Enfim… tudo sobre o lado bom de viajar sozinha que sempre falei aqui continua valendo, mas saiba que também tem o lado não tão bom. E assim como uma experiência boa não significa que todas as experiências serão boas, uma ruim não significa que vai ser sempre ruim.
Minha dica continua sendo: vá! Mas vá sem romantizar, sem esperar que seja uma perfeição, sem achar que você vai voltar transformada. Entenda que, como tudo na vida, pode ter também o lado não tão bom de viajar sozinha. Só não deixe de ir, de tentar. Permita-se!
Para ler ouvindo:
Foto principal: Imagem de StockSnap por Pixabay
Muito legal e verdadeiro, Mariana. A gente precisa muitas vezes idealizar um pouco menos para realmente não deixar de experimentar um pouco mais. Acho que seu texto serve muito bem para qualquer tipo de viagem, mesmo as que não fazemos sozinhos. Já vivi altos e baixos em condições de passeios que eram absolutamente iguais. O que passei a fazer foi aceitar melhor que as coisas podem ou não sair como esperadas. Às vezes são maravilhosas em condições bem pouco prováveis, ou extremamente frustrantes quando tudo parece que vai dar certo. O que vale mesmo é não deixar de ir. Abraço solidário de outro mineiro que adora bater pernas!
É isso, Bernardo. Altos e baixos podem acontecer em diferentes circunstâncias e faz parte… Obrigada pelo comentário!!! =)
Tem toda a razão Mariana. Nem toda a mulher gosta de ir seja onde for sozinha, quanto mais viajar. Eu experimentei este ano a primeira vez e adorei tanto que já vou uma segunda. Se correr tão bem como na primeira vou ficar viciada. Mas como eu digo; o lugar da mulher é onde ela quiser
Que demais, Sofia! Tomara que a segunda seja ótima e que muitas outras venham. Boas viagens pra vc!