Nem louca, nem coitadinha e, talvez, nem tão corajosa assim

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Por que insistem tanto em rotular uma mulher que viaja (ou faz qualquer outra coisa) sozinha? É só eu comentar algo – seja antes, durante ou depois da viagem – que as reações se repetem:

Ou me acham louca.
Ou sentem pena.
Ou me veem como super corajosa.

Num primeiro momento as opiniões (que, a propósito, eu nem pedi) são sempre uma dessas três e eu fico como?

Passado o estranhamento inicial, vem a curiosidade, e aí eu adoro porque conto das viagens, da minha vida, é quando eu consigo falar sobre tudo isso de forma não estereotipada. Sei lá se convenço e a ideia também nem é essa. Mas sinto vontade de desconstruir esses julgamentos, de mostrar que eu não sou nem uma coisa e nem muito menos outra. Porque afinal, viajar sozinha não é loucura nem coragem nem motivo de pena. É uma decisão que a gente toma e só.

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Teoricamente, louca é a pessoa não age dentro do que é considerado normalidade – e “Deus me dibre” do normal, no sentido de viver seguindo padrões nos quais não me encaixo. Então essa loucura até pode ser vista como positiva, mas sei que a ideia de quem diz não é exatamente elogiar. Então tem horas que irrita, embora eu saiba, também, que isso diz muito mais sobre a pessoa do que sobre mim. Conhece aquela frase que diz que “pássaros criados em gaiolas acham que voar é uma doença”? Mais ou menos por aí.

O “tadinha” segue essa mesma linha, mas me incomoda mais. Muito mais. Quando me olham com cara de pena, nossa… Eu me sinto mal porque obviamente não quero ser vista desta forma. Dá vontade de dizer coitadinha de você que não está fazendo o que tem vontade só porque não tem companhia, baby. Não falo, claro. Alguém tem que ter bom senso, né!

E o corajosa muitas vezes é em tom de admiração e até acho interessante, porque não é uma postura de julgamento. Mas, mesmo sendo dito como um elogio, é algo que só me faz ver o quanto o mundo ainda é hostil com as mulheres. Porque um homem que viaja, é só um homem que viaja. Isso nem é assunto. Já uma mulher que viaja… como ela é corajosa, que ousada. Fora que nem sou exatamente assim. Tenho meus medos, a diferença é que não me deixo paralisar por eles.

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Também acho interessante a diferença como somos vistas dependendo do lugar. Especialmente fora do Brasil, isso é comum e não causa estranhamento. Mas, por aqui, ou entre brasileiros, sempre tem pelo menos um palpite. Já teve vezes, em passeios mais no interior, que eu era quase uma atração turística. “À direita temos o Rio São Francisco, à esquerda temos uma mulher viajando sozinha”.

Comentei outro dia que ia escrever esse texto sobre sempre taxarem de louca, coitada e corajosa, e alguém completou com outra fala que também já ouvi algumas vezes: “e nem procurando marido”. Geralmente a pergunta é, de cara, se eu não tenho marido. Ou se ele deixou (oi?). Ou onde ele está. Confesso que já inventei, só para desconversar. “Está fazendo um curso na cidade e aproveitei para fazer o passeio”. É surreal, mas ainda é mais fácil respeitarem um homem que não está ali (e que, no caso, sequer existe), do que respeitarem a mulher que está!

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Já me incomodei, já ri, já me enfureci, mas cada vez mais tô na fase de não ligar. Porque na verdade, seja viajando ou onde for, estar sozinha, assim como estar acompanhada, é só uma condição. Não tem ou não era para ter nenhum juízo de valor em nenhum dos dois casos. Claro que eu entendo que, por todo o histórico social e todo o machismo estrutural, ainda é difícil para muita gente compreender esse ser quase “exótico” que é a mulher que faz qualquer coisa sem precisar ter companhia ou aprovação. Mas eu não devo (e nem você deve) explicações a ninguém. Se estamos felizes e fazendo algo que nos dá prazer, pronto, é só o que basta. Sem rótulos!

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