“Sou uma viajante desde sempre. O bichinho da vontade de conhecer o mundo por aí me picou pequena e nunca perdi a oportunidade de ir a qualquer lugar. Antes de saber o destino já aceitava (e continuo aceitando até hoje), porque o importante era ir e conhecer algo novo. E assim foi sempre.
Como viajar é algo muito pessoal, já que envolve tempo e escolha de destino, quase sempre tive que viajar sozinha mesmo. O que nunca foi um empecilho ou me causou algum tipo de tristeza. Até gosto, na verdade.
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Sozinha, fui conhecer as ilhas no litoral paranaense e ali conheci um pessoal que acabou se desdobrando em grandes amizades e projetos futuros e novas viagens também. De bicicleta algumas vezes, sendo uma fazendo o trajeto de Curitiba até Paraty, pedalando e conhecendo tudo. Viagens mais curtas, outras mais compridas.
Sozinha dei uma volta completa na América do Sul, de carona (com direito a carona no avião da FAB), sem dinheiro, sem nada, só com a mochila e um nariz de palhaço para ir sobrevivendo nos semáforos. Fui me hospedando onde dava, do jeito que dava, usei muito o couchsurfing.
Nessa de viajar sozinha, acho que o que me chama mais é a maravilha do inesperado. Viajar é se abrir para a vida e sozinha acho que isso se potencializa. Porque você sai da bolha de proteção, é você por você mesma, é instigar ir além dos próprios limites. Sentir emoções únicas, ver que você é capaz. É rir de si mesma, é ficar feliz de ter podido conhecer inúmeras pessoas e ter vivido inúmeras coisas, que talvez acompanhada não fosse possível, por conta da proteção que um outro alguém lhe causa, querendo ou não. E isso é para o bem e para o mal também.
Por estar sozinha e ser mulher, muitas vezes acaba acontecendo situações indesejadas. Por estar sozinha e ser mulher muitos caras se sentem à vontade para fazer algo. Tive situações desde aquele assédio banal na rua até uma situação bastante complicada com um anfitrião do couchsurfing que resolveu aparecer só de cuecas na minha cama no meio da noite. Aliás, uma casa que se algo acontecesse de mal, eu não teria condições de fugir. Mas viver a vida é também aprender a se defender e acabei conseguindo sair dessa armadilha sem nada de mal acontecer. Fiz uma referência negativa para o rapaz (o que é complicado, porque eu tinha certeza que ele ia me por outra pior para revidar e ferrar minha viagem, e ele colocou mesmo) e fiz uma denúncia na página, o perfil dele foi excluído e a referência negativa que ele me colocou também. Nessa, uma outra garota me mandou uma mensagem me falando que passou a mesma situação com esse rapaz, só que pior um pouco.
Quando a gente pega carona também, vez ou outra acontece. Isso é o que gera o grande medo de andar sozinha por aí, de uma hora dessas a gente der algum azar maior. Além do medo de não dar conta de se virar, de conseguir o que precisa, de falar com as pessoas de isso ou daquilo. Mas eu tenho pra mim que não são essas situações que vão me impedir de fazer e ir aonde quero, até porque a gente sabe que isso pode acontecer até na rua de casa, voltando do trabalho.
O que penso é que, já que quero viver, vou ter que aprender a me defender, me livrar de algo complicado e estar preparada para todas as situações. E estar preparada é o que me dá segurança para andar por onde for. Estar preparada até para o caso de sair correndo e largar tudo ou mandar uma conversa que deixe o outro com medo. Porque por fim é um jogo de medo, quem põe mais medo no outro ganha, e então que ganhe eu…rs
Isso inclusive aconteceu numa carona, o cara começou a falar e pedir coisas… fui falando sobre a mãe dele, até que ele soltou que a mãe dele estava morta, aí fui usando o fato da mãe morta estar vendo TUDO o que ele estava fazendo aqui. Mas tudo isso numa boa, sem estresse, na conversa mesmo. Ele foi ficando encabulado, acho que pesou a consciência, foi calando a boca e por fim me pediu desculpas por “qualquer coisa aí”. Enfim, às vezes se defender significa aprender a amedrontar o outro só com jogos de palavras bem colocadas, mas acho que um canivete bom e um spray de pimenta na bolsa ajudam bastante também.
E isso de escapar dessas roubadas, de conhecer pessoas, das experiências todas, boas e ruins, porque no fim todas são boas, te fazem crescer, aprender, ir além dos seus limites. Estar na estrada sozinha na verdade, apesar de qualquer coisa, é o que me faz sentir que estou livre e viva. Sentir cada quilômetro andado, cada abraço, cada prato de comida novo, cada por do sol. Tudo. Não existe solidão por estar sozinha na trip, só o sentimento de liberdade, de ser dona do dia e ao mesmo tempo a leveza de não ser dona de nada, nem do tempo nem das distâncias e nem das surpresas que chegam. E elas sempre chegam!”
Texto: Juliana Ramos
Fotos: Arquivo Pessoal
Já viajou sozinha e quer ver seu relato publicado aqui?
Me escreve no mariana@marianaviaja.com
Tive um grande e imenso prazer em conhecer a JU a muito tempo, e depois de muitos outros ela.acavou fazendo parte da minha primeira viagem de BIKE… Essa vida só é boa quando vivida. Abraços JU tamo junto tu é fera
Orgulho danado da Ju!!! Saudades pequena o mundo é todo seu!! bjo
Quando me lembro da Juliana,longas jornadas e grandes histórias de aventura e de superação vêm à mente. Já partilhamos alguns momentos: escalando morro no Paraná, viajando pelo Chile… Uma pessoa que vibra e inspira liberdade!