Li sobre este assunto em um perfil gringo no Instagram @decolonizingtravel e me identifiquei muito com o conteúdo. Tem a ver com temas que já falei por aqui e, por isso, resolvi adaptar e compartilhar, pois acho que quanto mais o assunto se amplificar e for discutido, melhor.
A proposta é descolonizar as viagens e desafiar os estereótipos prejudiciais que o conteúdo de viagens atual impõe, chamando a atenção para o comportamento irresponsável de viajantes e analisando de forma crítica alguns criadores de conteúdo de viagens e o que eles estão promovendo.
Como explicaram em uma das publicações: “Nós acreditamos que as viagens, especialmente as viagens tradicionais, atualmente, são, na verdade, uma forma de colonialismo moderno. Então queremos educar os viajantes sobre como viajar de forma mais respeitosa e responsável, bem como esclarecer que muitas maneiras de viajar hoje em dia podem ser problemáticas e impactar negativamente as pessoas em todos os lugares. As viagens não estão separadas dos problemas reais que muitas pessoas enfrentam no mundo – desde racismo e sexismo até mudanças climáticas e pobreza. E queremos falar sobre viagens de uma perspectiva interseccional, o que significa ter conversas honestas sobre raça, classe, gênero, poder e privilégios”.
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Os viajantes, principalmente hoje com as redes sociais, são capazes de criar uma demanda por uma indústria de viagens mais justa e sistemas mais equitativos. Mas, para que isso aconteça, precisam estar cientes do impacto que estão causando e defender um turismo mais responsável e sustentável, o que nem sempre acontece. É hora de repensar as viagens!
Por que comparar turismo e colonialismo?
O perfil cita que o turismo é uma atividade de pessoas privilegiadas, muitas vezes explorando recursos e pessoas locais. Apesar dos benefícios educacionais e financeiros, as viagens têm o poder de destruir lugares e prejudicar pessoas. E há um enorme desequilíbrio de poder entre os países ricos e pobres. Por isso, se quisermos continuar viajando e tornar nosso mundo um lugar mais justo, precisamos repensar a forma como viajamos. “Viajar é mais do que paisagens deslumbrantes, culturas coloridas, comidas exóticas e pobres felizes”, dizem.
Em outra publicação, fazem uma comparação mais direta entre viagens e colonialismo – coisas que a maioria de nós, acredito eu, aprendeu nas aulas de história, ainda que de forma mais superficial. Só para citar, o colonialismo é a política ou prática de adquirir controle político total ou parcial sobre outro país, ocupando-o e explorando-o economicamente. Tudo começou na “era dos descobrimentos”, quando “exploradores” (viajantes) eram enviados para “descobrir” (conquistar) novas terras, lucrar com seus recursos naturais e humanos, e expandir o controle dos impérios. E os colonos exploraram recursos que variavam de especiarias a drogas, além de pessoas que eram escravizadas.
Hoje os colonizadores não têm o mesmo poder legal e explícito de antes, mas o desequilíbrio ainda existe. Só não é tão óbvio. Marcas e mídia substituíram colonos e exploradores. Basta pensarmos onde são fabricados nossos eletrônicos ou mesmo roupas e de onde vêm os recursos para fazer esses bens. Compramos coisas baratas porque são feitas em países pobres, a maioria dos quais eram nações anteriormente colonizadas.
Algumas situações comuns que a gente consegue facilmente identificar em uma passadinha rápida pelo Instagram (eu tenho certeza que você conhece pelo menos um caso que se encaixa nesses exemplos abaixo):
– Turistas com mais dinheiro aproveitam o baixo custo de vida em alguns destinos, se mudam, atraem negócios mais caros, e os moradores locais vão perdendo o valor dos seus próprios negócios, além dos seus estilos de vida.
– Os criadores de conteúdo de viagens “descobrem” lugares já conhecidos dos habitantes locais e se consideram especialistas, apesar de passarem um tempo curto no destino. Assim, estabelecem toda uma carreira promovendo paisagens “estrangeiras” com eles próprios no centro.
– Muitos escolhem seus destinos especificamente para ganhar seguidores, pensando nos cenários e nas fotos que cada lugar pode render. Ou até mesmo nas atividades que podem aprender (e dizer que “descobriram” enquanto viajavam). E lucrar vendendo isso – um exemplo clássico são as aulas de yoga em lugares paradisíacos “com energia ótima”.
– De influenciadores de viagens a seguidores, o impacto se torna grande, causando degradação ambiental e aumentando a disparidade econômica. E quando o comportamento do viajante – principalmente ao postar nas redes sociais – é focado em aparência, luxo e curtidas, e não no aprendizado e no intercâmbio cultural, isso aumenta as viagens irresponsáveis.
– Ao compartilhar apenas fotos de si mesmos com aparência glamorosa ou aventureira, os influenciadores não estão vendendo nada além de si mesmos e da estética dos lugares, ignorando os contextos históricos, políticos e socioambientais dos destinos que visitam.
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O perfil tem também algumas dicas para ser um viajante melhor. Mas o conselho que já fica é que precisamos aprender a viajar e a compartilhar isso de outras formas, valorizando mais a qualidade que a quantidade, mais as experiências que os registros.
* Informações adaptadas a partir do conteúdo do Instagram @decolonizingtravel
** Foto principal: Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
Ótimo texto, Mariana! Vejo muito, principalmente, no Youtube, viajantes mostrando as viagens que fazem, mas eles são o centro da tela – a cidade é um pano de fundo. Eles transferem toda a importância do lugar ou do que está sendo mostrado para o fato de eles estarem ali.
Muito interessante a sua abordagem. Vou estar mais atenta a isso.