Casa de Fernando Pessoa e mais lugares da vida do poeta em Lisboa

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“Outra vez te revejo – Lisboa e Tejo e tudo –
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma.”

Álvaro de Campos (Heterônimo de Fernando Pessoa) – Lisbon Revisited (1926)

Impossível pensar em Lisboa sem pensar em Fernando Pessoa. O poeta sempre foi um apaixonado por sua terra natal. Ele não gostava de viajar, a menos que fosse algo extremamente necessário. Mas, em compensação, adorava passear pela própria cidade, que foi, por muitas vezes, descrita em seus poemas.

Pessoa chegou inclusive a publicar um livro com um roteiro turístico pela capital portuguesa – “Lisboa: O Que o Turista Deve Ver” (Companhia das Letras), foi a forma que encontrou de mostrar ao mundo o que a cidade tinha de mais interessante. Mal poderia imaginar que ele próprio se tornaria uma das principais atrações!

Os lugares que fizeram parte da vida e da obra de Fernando Pessoa são, hoje, pontos turísticos de Lisboa obrigatórios para os seus admiradores. Imagine só entrar no quarto em que ele dormia, ver a cômoda na qual ele escrevia, comer nos mesmos restaurantes onde ele comia?

Eu conheci alguns desses lugares durante minha viagem a Portugal. Te conto aqui quais são, com mais informações para incluí-los no seu roteiro!

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Casa de Fernando Pessoa em Lisboa: como é a visita

A casa onde Fernando Pessoa viveu nos últimos 15 anos se transformou em um centro cultural. Desde o início da década de 1990 o local passou a ser aberto à visitação, preservando e divulgando o legado do poeta.

Na fachada, algumas frases famosas chamam a atenção. E, do lado de dentro, os ambientes foram reconstituídos, unindo história, memória e literatura. São três pisos com salas de exposições sobre a vida e a obra de Pessoa – entre móveis, objetos, manuscritos, livros e muito mais.

Para mim, a parte mais emocionante foi, sem dúvidas, poder entrar no quarto, montado da forma como era originalmente.

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Tem, também, uma biblioteca, com obras do próprio acervo particular do poeta, que totalizam mais de 1300 publicações, possibilitando entender um pouco sobre o gosto do Fernando Pessoa leitor. E conta ainda com espaços para exposições temporárias e eventos culturais, além de uma loja/livraria.

A Casa de Fernando Pessoa fica um pouco distante das principais áreas turísticas de Lisboa, como o Chiado e Belém, em uma região que não tem outros atrativos e nem mesmo muitas opções de lugares próximos para comer. Mas vale muito a visita!

O local chegou a ser citado em uma das cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz, escrita em 1920 e posteriormente publicada em um livro junto a outras cartas:

(…) A Rua Saraiva de Carvalho é muito comprida;
parte dela é aqui ao voltar a esquina.
O princípio é perto do Rato, o fim no Cemitério dos Prazeres.
A Rua Coelho da Rocha é perto do fim.(…)

É um passeio relativamente rápido, que pode ser feito em média em 1h (mais o tempo dos deslocamentos). Assim você pode aproveitar o dia para conhecer outros lugares que também fizeram parte da vida dele.

  • – Endereço: Rua Coelho da Rocha, 16, Campo de Ourique.
  • – Funcionamento: de terça a domingo d 10h às 18h.
  • – Valor da entrada: 5 euros (ou 6 euros para a visita guiada).
  • – Como chegar: metrô linha amarela até a estação Rato e Elétrico 28 até a estação Estrela.
  • – Mais informações: site Casa Fernando Pessoa

Mais lugares em Lisboa na vida de Fernando Pessoa

Largo de São Carlos

O local onde Fernando Pessoa nasceu, em 13 de junho de 1888, fica no quarto andar do edifício de n° 4 do Largo, localizado na esquina da Rua Serpa Pinto com a Rua Paiva de Andrada, no tradicional bairro do Chiado.

O prédio é uma construção típica do século XIX, inspirada no Teatro Della Scalla de Milão. Não é um local para visitação, mas vale passar para fotografar a grande escultura de bronze que fica bem em frente, como forma de homenagear o filho ilustre.

A estátua, feita pelo artista belga Jean-Michel Folon, tem 4 metros de altura e foi inaugurada em 2008 como parte das comemorações dos 120 anos do nascimento de Fernando Pessoa. Ela mostra um homem cuja cabeça é um livro aberto. Ao lado de uma das sacadas há também uma plaquinha informando sobre o nascimento do poeta.

  • – Como chegar: metrô linha azul até a estação Baixa/Chiado.

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Na mesma praça está o Teatro Nacional de São Carlos, principal casa de ópera de Lisboa, que foi inaugurado no fim do século XVIII e dá nome ao largo.

Praça do Rossio

A Praça do Rossio é uma das mais antigas da cidade e, ao longo dos anos, foi palco de manifestações políticas, atos de fé, touradas, feiras, mercados e acontecimentos diversos.

Entre as várias ruas que faziam parte dos trajetos diários de Fernando Pessoa, esta praça se destaca e foi chamada por ele de “o coração de Lisboa”.

Também conhecida como Praça Dom Pedro IV (chamado de Dom Pedro I no Brasil), fica na região da Baixa. Ao redor dela estão alguns prédios importantes como o Teatro Nacional Dona Maria II. E fica próxima do Elevador de Santa Justa, um dos passeios turísticos imperdíveis em Lisboa.

Lá fica também o Café Nicola, que existe desde o século XVIII e era um dos preferidos do poeta, além de diversos bares e restaurantes. É uma ótima parada para o almoço ou jantar.

  • – Como chegar: metrô linha verde até a estação Rossio.

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Elétrico 28

O bonde público mais famoso e tradicional de Lisboa vai da Praça Martim Moniz ao Campo de Ourique, passando por muitos pontos da cidade como a Praça Luís de Camões, o bairro do Chiado, a Catedral da Sé e o Miradouro de Santa Luzia.

Ele era muito utilizado por Fernando Pessoa para se deslocar entre o Chiado, sempre frequentado por ele, e o Campo de Ourique, onde morava. E ainda hoje é o transporte mais comum entre esses dois bairros, muito usado pelos moradores da cidade ao se deslocarem no dia a dia.

Mas o Elétrico 28 é muito mais que só um meio de transporte. É, também, um passeio turístico, chegando muitas vezes a ter longas filas de espera para o embarque, principalmente durante a alta temporada.

  • – Funcionamento: de segunda a sexta de 6h às 22h30.
  • – Valor do bilhete: 3 euros.

Mosteiro dos Jerónimos

Quando Fernando Pessoa faleceu, em 1935, seu corpo foi sepultado no Cemitério dos Prazeres. Depois de 50 anos, os seus restos mortais foram transferidos para o Mosteiro dos Jerónimos, onde é possível visitar o túmulo, que tem alguns poemas escritos nas laterais.

Localizado às margens do Rio Tejo, o Mosteiro é um dos principais pontos turísticos de Lisboa e recebe cerca de 1 milhão de visitantes por ano. A construção imponente e exuberante é considerada uma verdadeira obra prima, com grande riqueza de detalhes, especialmente na fachada e nos claustros.

Além disso, é um local repleto de história. Foi feito no século XV a mando do Rei Manuel I, com uma estética própria que passou a ser chamada de estilo manuelino, como uma referência ao monarca. Em 2007 foi eleito como uma das sete maravilhas de Portugal e é tombado pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade.

  • – Endereço: Praça do Império 1400-206, Belém
  • – Funcionamento: de terça a domingo de 10h às 17h30 (de outubro a abril) e de 10h às 18h30 (de maio a setembro). Não abre nos dias 01/01, 01/05, 13/06, 25/12 e no domingo de Páscoa.
  • – Valor: 10 euros (com direito também a visitar a Torre de Belém).
  • – Como chegar: bonde linha 15.

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Onde comer em Lisboa: lugares que eram frequentados por Fernando Pessoa

Café A Brasileira

Fernando Pessoa era frequentador assíduo deste café, onde muitos artistas e escritores costumavam se encontrar para conversar sobre livros e literatura.

Do lado de dentro, o ambiente é charmoso, com muitas pinturas e espelhos. Mas é do lado de fora que está o principal destaque: uma estátua do poeta sentado em uma das mesas, com uma cadeira vazia do lado – um convite para quem quiser se sentar com ele.

A obra foi uma homenagem ao primeiro centenário de nascimento do poeta, em 1988, e fez com que o Café A Brasileira se tornasse um ponto turístico, onde os viajantes sempre param para tirar a tradicional foto. Inclusive foi minha primeira parada em Lisboa. Eu estava hospedada bem perto e depois ainda passei por lá outras vezes.

Uma curiosidade é que o local e tem esse nome porque seu fundador visitou o Brasil e passou a importar grãos de café de Minas Gerais.

  • – Endereço: Rua Garrett, 120, Chiado.
  • – Funcionamento: todos os dias de 8h à meia-noite.
  • – Como chegar: metrô linha azul até a estação Baixa/Chiado.

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Martinho da Arcada

O Café-Restaurante Martinho da Arcada é outro local em Lisboa que tinha Fernando Pessoa como um frequentador assíduo. Ele pedia um café e ficava lendo e escrevendo. Era como se fosse o seu escritório. E há até uma citação no poema “Sá Carneiro”:

(…) É como se esperasse eternamente
A tua vida certa e combinada
Ahi em baixo, no Café Arcada —
Quasi no extremo d’este Continente (…)

O poeta esteve lá pela última vez três dias antes de morrer. Em homenagem, mantiveram a mesa dele arrumada e, em cima, um suporte com um chapéu e uma foto dele no estabelecimento. Há também outras fotos e algumas poesias compondo a decoração.

Tudo isso fez com que o café, que também funciona como restaurante, se tornasse uma atração turística. É uma boa pedida para o almoço ou o jantar, vivenciando um pouco da história local enquanto saboreia pratos tipicamente portugueses.

  • – Endereço: Praça do Comércio, 3.
  • – Funcionamento: todos os dias de 12h às 15h e de 19h às 22h.
  • – Como chegar: metrô linha azul até a estação Terreiro do Paço.

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Vida e obra de Fernando Pessoa

Fernando António Nogueira Pessoa, ou simplesmente Fernando Pessoa, é hoje o nome da literatura portuguesa mais reconhecido no mundo. Mas ele morreu tendo publicado apenas um livro de versos em português (“Mensagem”, em 1934), além de três livros em inglês.

Tinha, também, alguns poemas publicados em jornais com diversos heterônimos (poetas fictícios com personalidades e características próprias, que produziam registros literários diferentes), como Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Bernardo Soares e Álvaro de Campos.

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Mas só alguns anos depois de sua morte é que foram descobertos inúmeros textos inéditos guardados em um baú. Eram cerca de 27 mil fragmentos!

Foi então que a profundidade de sua obra começou a ganhar destaque, provocando uma revolução no meio literário e transformando-o no grande nome que é ainda hoje.

Fernando Pessoa que, como qualquer um de nós, não era nada, não poderia querer ser nada. Mas tinha em si todos os sonhos do mundo…

“Se, depois da minha morte, quiserem escrever minha biografia,
não há nada mais simples.

Há só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.”

(Alberto Caeiro – Poemas Inconjuntos, 1925)

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