Logo na entrada do Museu da Memória e dos Direitos Humanos em Santiago, no Chile, uma frase dita pela ex-presidente do país Michelle Bachelet no discurso de inauguração resume bem o propósito do lugar: “Não podemos mudar nosso passado. Só nos resta aprender com o que vivemos. Esta é nossa responsabilidade, nosso desafio”.
Inaugurado em 2010, o museu (Museo de la Memoria y los Derechos Humanos), é uma homenagem às mais de três mil pessoas que foram mortas e/ou dadas como desaparecidas durante a ditadura chilena de Augusto Pinochet, além de mais de 200 que precisaram se exilar em outros países.
E, como o próprio site diz, é um espaço destinado a dar visibilidade às violações aos direitos humanos cometidas pelo Estado do Chile entre 1973 e 1990; dignificar as vítimas e suas famílias; e estimular a reflexão e o debate sobre a importância do respeito e da tolerância, para que fatos como esses não se repitam. Hoje é um dos principais museus de Santiago e um dos lugares mais indicados para quem visita a cidade, essencial para conhecer e entender melhor a história do país.
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O que são os Direitos Humanos
Antes de falar sobre o museu, uma explicação rápida sobre o tema, que ultimamente tem sido muito descontextualizado e até mesmo motivo de polêmica. Vou deixar o link para quem quiser baixar a Declaração Universal dos Direitos Humanos e entender melhor. Ela foi escrita depois dos horrores da 2ª Guerra Mundial por representantes de diferentes origens jurídicas e culturais do mundo todo.
Segundo o site da ONU (Organização das Nações Unidas): “São direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição, incluindo o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à educação, entre e muitos outros”.
Segundo o site da Anistia Internacional: “São os direitos e liberdades básicas de todos os seres humanos, que devem ser garantidos de maneira igualitária, universal e sem distinções, direitos fundamentais para todas as pessoas era necessário”.
Com o tempo muita gente começou a distorcer esses conceitos e a criar estereótipos que não condizem com o que realmente os direitos humanos representam. Por isso acho sempre válido ler e se informar a respeito. Agora vamos ao passeio!
Sobre o Museu da Memória e dos Direitos Humanos
Fui em 2017 e não era permitido fotografar, tanto que o único registro que tenho é este do lado de fora. Eles têm um guarda volumes onde deixei bolsa com celular e tudo. Mas o Lenilton Araújo, meu amigo e diretor dos meus vídeos, foi no final de 2018 e a fotografia já era permitida. Todas as demais imagens que ilustram este texto foram gentilmente cedidas por ele, bem como as informações abaixo sobre cada um dos espaços do museu.
“Ao entrar no Museu, o visitante tem um primeiro contato com as informações sobre Comissões da Verdade criadas em muitos países e sobre os monumentos que celebram a memória aos direitos humanos.
Ao subir pra o primeiro andar, passa-se a ter acesso à exposição permanente que trata do Golpe Militar no Chile em 11/09/1973, suas consequências e o restabelecimento da democracia. Em um primeiro momento, é apresentada uma sequência de vídeos que mostram o desenrolar dos fatos do dia em que as Forças Armadas chilenas bombardearam o Palácio de La Moneda e tomaram o poder após a morte do presidente Salvador Allende.
No terceiro piso, as laterais são dedicadas a mostrar a repressão do Estado, a perda do estado de direito, aos tipos de assassinatos cometidos pelo regime de Pinochet, a censura e o conluio de alguns órgãos de imprensa.
Um piso acima inicia-se o contato com os processos de resistência e com o plebiscito que disse ‘No’ (‘Não’) ao sistema estabelecido, forçando a volta do país à democracia. Um painel com fotos de pessoas, alguns quadros em preto e outros em branco representam os presos, os desaparecidos e os assassinados.
O painel perpassa todo o “pé direito” do prédio levando a entender que aquela situação ocorreu desde o dia do Golpe até o início do restabelecimento da democracia no Chile.
O prédio conta ainda com um espaço dedicado a mostras temporárias e, no subsolo, com uma biblioteca/videoteca para utilização de pesquisadores. Do lado de fora tem ainda uma cafeteria.”
Eu acho difícil escrever a respeito porque são muitas as sensações que a visita desperta. A memória desse período da história chilena está presente em cada objeto, em cada foto, em cada vídeo, em cada texto, em cada notícia, em cada canto do museu. É uma aula! Um lugar para refletir.
Outras exposições
Além do acervo, também há eventos, sempre com temas relacionados. Em 2019 está prevista um sobre os direitos dos imigrantes, com workshops, apresentações teatrais e várias atividades político-culturais focadas em fortalecer os princípios da igualdade, dignidade e justiça para todos, além de uma exposição chamada “Nós e os Outros”, que desafiará o visitante a compreender como os preconceitos se tornam ações racistas, mostrando que o racismo é uma construção social que levou a humanidade a cometer os maiores genocídios do mundo.
Em 2018 um dos destaques foi o tema Memórias Indígenas, abordando as violações dos direitos humanos cometidas pelo Estado do Chile contra os povos indígenas não apenas durante a ditadura, mas também antes e depois desse período.
Como visitar
O Museu da Memória e dos Direitos Humanos fica bem em frente à estação de metrô Quinta Normal (linha 5 – verde), na Calle Matucana 501. Aliás, o parque Quinta Normal tem um ambiente superagradável e é uma boa opção para fazer no mesmo dia.
O funcionamento é de Terça a Domingo, de 10h às 19h. Fecha apenas nos seguintes feriados: 01 de janeiro (Ano Novo), 1° de maio (Dia do Trabalho), 18 e 19 de setembro (Festa Nacional e Dia das Glórias do Exército), e 25 de dezembro (Natal). A entrada é gratuita! Quem prefere visitas guiadas, pode agendar pelo site ou solicitar um audioguia (com opções em diversas línguas, incluindo português) por 2.000 pesos chilenos.
Eu saí de lá com um nó no estômago, pensando em muita coisa… Fui andando pelo parque, aí ouvi um batuque ao longe, era um grupo de percussão com duas cantoras e um grupo de dança. E tocavam músicas brasileiras! Foi tão lindo ver aquilo e foi ótimo para espairecer e tentar relaxar um pouco a mente depois de uma visita tão triste e tão pesada, mas tão importante e necessária. Para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça!
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Muito interessante o seu post, Mariana. Não conheci esse museu, não deu tempo, mas vai ser o primeiro lugar que vou visitar quando voltar a Santiago.
Acho que o Brasil carece de um museu voltado para as atrocidades que aconteceram aqui durante a Ditadura Militar. Se existe, não conheço. E acho que esses episódios sórdidos da nossa história devem ser lembrados a cada dia para que não voltem a se repetir. Estamos no fio da navalha!
Ótimo texto e muito necessário nesses tempos que estamos vivendo. A memória da América Latina é também a memória do Brasil, é uma lástima a “amnésia” que tem afetado nosso povo. Não sabia sobre o museu, obrigada por compartilhar.
realmente precisa mostrar a história para que a galera aprenda e tente perceber o que aconteceu de verdade. muita gente acha que é invenção ou só vê um lado. é bizarro aprender na escola e aí ter q ouvir asneiras de gente ignorante. não pode se repetir, precisam existir
Em nossas andanças gostamos muito de ir a museus, interessante conhecer a história recente de nossos vizinhos que foi marcada por ditaduras. Liberdade, liberdade abre as asas sobre nós… Excelente post!
Todo país que passou por momentos de exceção deveria ter um espaço como esse para sempre ser lembrado de quanto cruel foi para que nunca (nunca!) se repita. E, principalmente, para que conceitos como Direitos Humanos não sejam distorcidos ou levados a um lugar comum. O mapa de países que passaram por regimes ditatoriais é incrível e infelizmente estamos nessa foto.