Afroturismo valoriza lugares que são parte da história do povo negro

afroturismo

Já ouviu falar em afroturismo? Também chamado de turismo afrorreferenciado, é um turismo voltado para o resgate de histórias que foram apagadas pelo racismo e para a importância de conhecermos lugares ligados à cultura do povo negro.

Não é um assunto novo. Há guias de turismos, blogs e agências que há um bom vêm fazendo esse trabalho. Mas o assunto ganhou mais força a partir do movimento “vidas negras importam”, em meados de 2020.

Tanto nas redes sociais como fora delas, muita gente se mobilizou e passou a falar mais disso, inclusive dentro da área do turismo, abordando a importância de um turismo antirracista.

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O afroturismo foi o tema do papo que rolou no podcast Além do Olhar, que faço junto com a Amanda do blog As viagens de Trintim. Conversamos com o Guilherme Soares Dias, do blog Guia Negro, e com a Gabriela Palma, da Agência Sou Mais Carioca.

“Existe muito racismo dentro do mercado do turismo e, por conta desse movimento atual, muitas pessoas começaram a ‘se ligar’ um pouco mais. Mas, pra gente, não começou agora. Já fazíamos um trabalho de turismo afrorreferenciado”, conta Gabriela, que realiza o tour “Pequena África”, no Rio de Janeiro, entre outros passeios.

Na foto acima, o Cais do Valongo, uma das paradas desse tour – é o local onde os negros chegavam para serem comercializados e escravizados e que só foi “descoberto” recentemente na escavação das obras de revitalização da região.

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Para Guilherme, que realiza a “Caminhada São Paulo Negra”, o turismo afrorreferenciado ainda é um nicho pequeno, mas com potencial de crescimento. “A partir do momento em que você viaja de uma forma em que se enxerga, em lugares que contam a sua história, você nunca mais vai viajar do mesmo jeito. É um caminho sem volta. Para qualquer destino que você for, vai sempre buscar lugares nas cidades que mostram mais da história negra. E é interessante ter ganhado essa visibilidade agora, mas a gente torce para que não seja só neste momento”, diz.

Narrativas afrorreferenciadas

Ao longo da vida a história que nos foi ensinada tem um lado só. Nem falo só da escola, fora dela também eram sempre os mesmos pontos de vista. Porque assim vem sendo desde sempre, passada para outras gerações, e, se ninguém aprendeu diferente, como vai ensinar diferente?

Por isso é muito importante conhecermos outras narrativas, diferentes daquelas que nos foram ensinadas – ou talvez que sequer foram ensinadas.

E o afroturismo traz esse protagonismo (ou não protagonismo) dos negros, o que tem uma representatividade imensa. São mais negros querendo conhecer a própria história, mais brancos aprendendo sobre tudo isso, mais vezes esse outro lado sendo passado para frente.

Até que um dia, quem sabe?, a história mude e passe a ser contada oficialmente da forma como deveria ter sido contada sempre.

Você pode ouvir nossa conversa aqui ou procurar Além do Olhar na sua plataforma de áudio preferida:

Negros no turismo

Outro ponto que abordamos foi o fato de que quando se fala de negros viajantes, o número é menor que o de brancos, embora a população seja majoritariamente negra. Nada diferente das faculdades, das empresas. É aquela história de entrar em um restaurante e observar quantos estão, como você, consumindo e quantos estão te servindo ou limpando? Vale para o aeroporto também.

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A discussão sobre a questão racial é enorme e abrange vários aspectos, mas há alguns recortes que precisam ser feitos e o turismo pode – e deve – também ser um deles. No caso de mulheres que viajam sozinhas, tema que sempre falo por aqui, ser uma mulher negra é um ponto que torna a experiência totalmente diferente.

Conversei sobre isso em 2019 com a Paula, do blog No Mundo da Paula, em um vídeo do meu “Dedo de Prosa”, bate papo no Youtube com convidados diversos.

Cabe a nós, brancos, fazer esse movimento de procurar, de ir atrás desse conteúdo, de conhecer mais gente que atua nesse sentido. Não só do afroturismo, mas de outras áreas também. É um caminho, são pequenos passos.

E, como li outro dia, não é sobre “dar voz aos negros”. Eles sempre tiveram voz, eles estão e sempre estiveram por aí falando. Nós é que não ouvíamos. Então agora é hora de dar ouvidos aos negros! A gente tem muito o que aprender!

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